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Japão – Chegada e saída.
Insegurança, sonhos, trabalho, paixão, amor, casamento, gravidez, compra de casa, traição, retorno com a viola na sacola. Feliz? Esta é minha história.

Vou fazer um resumo de minha história, depois que comecei a ler esta página, mesmo antes dela ter começado.

Um amigo indicou os textos que você escrevia para seus amigos. Confesso que a primeira vez que li, por falta de saber uma interpretação de texto, eu achei que você falava mal do Japão e estava mandando os brasileiros embora, rs. Fiquei até achando que você era uma pessoa que não gostava dos estrangeiros e queriam ver eles indo embora. Tudo isto foi no ano passado, em abril de 2014.

Eu com 28 anos, com uma filha de 2 anos, somente achava o Japão minha única forma de vida – velha, com quase 30 anos, com filha, somente com segundo grau que terminei pelo supletivo – não via outra coisa a não ser trabalhar minha vida inteira no Japão em fabricas, usando um boné todos os dias, e que tinha a maior bronca com isto, rs. Durante a semana era boné e uniforme feio, e no final de semana era querendo ter as unhas lindas, arrumar meu cabelo e colocar pelo menos um jeans e camiseta que não me lembrassem o uniforme e o boné, rs. Pelo menos 2 vezes por mês era possível no sábado e domingo, eu trabalhava 2 sábados por mês.

A família de meu ex-marido, comprou uma casa nova, linda, mas comprometeu a renda de todos, incluindo a renda de meu marido. Fizeram as contas e acharam melhor todos morarmos numa casa nova grande e meio que separada, com algumas áreas de uso comum. Tínhamos nosso quarto, nossa sala, mas o resto era junto com toda a família.

Para ter um casa assim, a prestação ficou em 138 mil ienes que todos teriam que pagar, meu sogro e sogra, meu marido e eu, e minha cunhada, cada um na sua proporção.

Eu não tinha outra escolha a não ser fazer horas extras e deixar minha filha na creche até tarde, e todos também trabalhavam até tarde fazendo horas extras. As despesas de água, luz, gás, eram todas divididas, mas sempre era o mesmo valor de quando eu pagava sozinha quando morava com meu marido. Não é por morar junto que as contas ficaram mais baratas, somente o aluguel ficou mais em conta.

Já estava no Japão há mais de 12 anos, cheguei com 15 anos, não terminei meus estudos, e fiz supletivo no Japao para concluir o segundo grau. Entrei na escola japonesa com 15 anos, nao entendia nada e todos riam de mim. Fiquei 2 meses e sai, já poderia fazer baitos, achei melhor e estudar mais tarde.

Meu sonho era fazer enfermagem, porém não havia chance para realizar este sonho no Japão. Eu não tinha condições de acompanhar as aulas em japonês, por mais que entendesse a fala, a escrita a era muito dificil, o curso era muito caro e não tinha como estudar e trabalhar, somente no teiji era impossível completar a renda da família e ter uma segurança para minha filha. Tinha que ter o minimo de japones no teste de proficiencia, exigencia das escolas técnicas.

Só me restava mesmo trabalhar em fábricas por empreiteiras, já que nenhuma fábrica japonesa emprega uma mãe e a contrata direito, pelo menos não consegui nas 3 que fui direto indicada pela HELLO WORK.

Bom, eu li seus textos e via você falando que os brasileiros tem mais chances no Brasil do que no Japão. Ficava pensando, que coisa mais sem nexo, isto não existe, nestes anos eu só via noticias ruins do Brasil na internet, todas as páginas colocando noticias ruins, eu realmente achava você uma sonhadora, ou uma pessoa que não sabia das coisas, não estava entendo sua mensagem.

Cheguei no Japão com 15 anos, no Brasil morava em uma cidade tranquila, cidade pequena, nunca voltei ao Brasil e todos falavam que os bandidos tomavam conta das ruas, que as mulheres eram violentadas, que os bandidos passavam atirando, e mais um monte de coisas, pessoas morrendo nas filas dos hospitais e por aí vai. Eu só acreditava que viveria feliz e protegida com minha família, marido e filha somente no Japão.

Eu me sentia muito culpada em não ter tempo para minha filha, eu tinha que trabalhar muito, sempre 2 horas ou 3 horas extras, esta era a condiçao em que fui contratada, porque se precisasse faltar por motivo de saúde de minha filha, teria que me sujeitar as horas extras.

Minha sogra era a única que saía de teiji e pegava minha filha na creche, mesmo assim no final do dia, sempre no último horário porque precisava sair do trabalho e ir até a creche, chegando por volta das 17:45 as 18:15.

Meu ex-marido tinha carro novo, prestação do carro, era casa nova e carro novo, todos no aperto e todos sem tempo, somente trabalhando e trabalhando muito, ele fazendo 2 turnos e eu somente de dia. Meu sogro também fazia 2 turnos, já as mulheres sempre de dia.

A família perdeu a noção de vida, eu também, carros novos, casa nova, telefones novos, e muito trabalho, mas quem pensa diferente no Japão?

Meu sogro adoeceu, 3 meses depois da casa pronta, como tinha pouco tempo no shakai hoken, não entendo nada disto, ele iria ganhar 55.000 ienes por mês ou próximo disto, antes com hora extra, ganhava mais de 300.000 ienes. Triste o que aconteceu com ele, pouco mais de 50 anos.

A família ficou com a renda mais comprometida e tinha uma prestação de 138.000 ienes por mês dividias em 4 trabalhadores, eu meu, esposo, minha sogra e uma cunhada.

Eu não tinha tempo para minha filha, somente nos domingos e alguns sábados, sempre queria hora extra, eu queria ganhar dinheiro para guardar para minha filha, porque o foco das pessoas na casa era pagar logo a casa e deixar os planos do futuro como a Deus dará, Deus sabe o que faz.

Tínhamos planos de também viajar a Okinawa, ou outro lugar fora e perto, e queríamos juntar dinheiro para isto, dinheiro para ir fazer snowboard, sky, dinheiro para ir na disney, universal, e final de semana, todos cansados queriamos comer fora, estes são os planos de vida no Japão.

Esqueci de mencionar que no trabalho sempre ouvia as pessoas pensando e comentando sobre o novo iPhone, no novo tênis, nova bolsa, sempre pensando em ter um carro mais novo e não diferente disto, eu era contaminada com estas idéias, mas pensava sempre em guardar um pouco de dinheiro para minha filha. Perdi a noção da vida por estar segura no Japão .

Meu ex-marido me traiu em meados do ano passado, caso antigo que demorei a descobrir. As traições no Japão são muito fácies, tanto para homens como mulheres. Todos de internet, trabalhos em turnos diferentes, a família perde a essência no Japão pelas grandes possibilidades e trabalho excessivo, todos trabalham e ninguém cuida de ninguém, somente de seu trabalho. A preocupação é em relação a quantidade de hora extra e não em saber se estamos felizes com nossos sentimentos.

Não vou dar detalhes de como foi, quero escrever como tomei minhas descisões em relação ao meu futuro e de minha filha.

Ele tendo carro novo e casa nova, as mulheres pensam que ele poderia ser melhor que os outros ou sei lá. Somente quem é traída pode saber o que passei. A ostentação aparente é muito quando falamos de Japão, muitas pessoas pensam que ostentar é ter dinheiro e nem sabem que se ficar sem trabalhar 1 mês tem que vender tudo que comprou porque não consegue pagar.

Eu fiquei muito triste, claro, sou mulher latina, sangue forte, se eu respeitava meu marido, trabalhava duro para ajudar a família toda a pagar um imóvel, tinha que ser respeitada também do mesmo jeito. Eu abria mão do contato com minha filha na semana, eu chegava em casa e ela já estava dormindo. Fiz de tudo para ajudá-los, pensando que seria a melhor opção, fiz de coração, e não merecia ser traída. Tinhamos definidos planos para todos, futuro? Somente foco em querer pagar a casa logo.

Eu fiz uma pequena poupança para minha filha, não tinha muito. Com esta poupança comprei uma passagem para nos duas, e disse para meu ex-marido que iria visitar minha família no Brasil, estaria disposta a me separar, e iria voltar dentro de 2 meses para fazer todos os tramites necessários, mas precisava ir ver minha família.

Minha mãe e meu pai tinham voltado quando eu tinha 23 anos. Eles compraram uma casa pequena pelo plano de ajuda do governo e estavam conseguindo pagar,. Casa simples mas sem comprometer a renda de ninguém, a não ser a renda do meu pai, que ainda trabalhava para pagar aposentadoria.

No tempo que ele estava no Japão, ele pagou a aposentadoria do Brasil, sempre pensava que teria que ter um dinheiro na velhice.

Antes de ir para o Brasil, eu conversei muito com meu ex-marido, expus tudo. Eu precisava do colo de minha mãe, eu estava sozinha no Japão, era eu e minha filha, e não poderia parar o serviço, a prestação da casa contava com minha parte.Todos da família me apoiaram e pediram desculpas por ele, mas o estrago estava feito em meu coração.

Cheguei no Brasil com a intenção de ver minha família, chorar com minha mãe, abraçar ela, e dar um beijo no meu pai, eu gosto muito dele, e sempre senti falta dos meus pais. Meus pais nunca viram minha filha, somente internet e fotos.

Depois disto, iria ficar mais uns 2 meses e voltar, tinha comprado a passagem de ida e volta, minha sogra disse que quando voltasse tudo seria diferente, e que meu ex-marido iria ser outra pessoa, nunca mais iria errar.

Lembrando dos seus textos, onde você dizia que empatando no Brasil seria a melhor opção, resolvi buscar informações sobre estudos, empregos, saúde, educação, já que estava aqui no Brasil, matando a saudade e conhecendo pessoas lindas, boas e esforçadas, como tios, primos. Amigos de infância casados, com casas financiadas, construídas, sendo reformadas, com carros, e bons empregos. Pelo menos aparência boa.

Nossa, como a vida no Brasil também flui para as pessoas. Eu achava que era somente no Japão que as pessoas conseguiam as coisas.

Eu me assustei com tudo, a cidade pequena que tinha deixado, e quando retorno tudo muito diferente. Estava perigosa, mesmo com criminalidade baixa, não se podia facilitar, temos que tomar cuidado, estamos no Brasil e não Japão.

Nas minhas pesquisas, verifiquei que poderia fazer uma faculdade de enfermagem ou um curso técnico mesmo sem dinheiro. O Brasil tem vários projetos bons para as pessoas, apesar da corrupção do governo, muitas coisas boas estão acontecendo.

Na minha cidade, tem muitos japoneses, e foi engraçado porque eu nem sabia disso, um monte de japoneses trabalhando em fábricas japonesas lá.

Eu fiquei muito animada com a possibilidade de estudar, mas minha filha era o problema. Escola brasileira, creche brasileira, eu pensava que tinha bandidos rondando todos os lugares e que as pessoas não poderiam andar sozinhas na rua sem ser assaltadas, que todas as escolas públicas eram de crianças mal educadas e sem educação, esta era minha visão, visão de uma caipira, pobre caipira que conhece conhecia somente o Japao na cidade pequena que morava e nem sabia de coisas do resto do mundo.

Fui conhecer as escolas e creches, e achei que as pessoas estavam mentindo para mim. Minhas amigas de infancia com serviços na profissão que escolheram, usam as mesma escolas que eu iria usar para minha filha, meus amigos e parente com filhos em escola pública, tudo bem bonitinho, será mesmo que aquilo era verdade?

Fiquei pensando muito, fui perguntar se podia mudar a data da passagem de volta, me disseram que tinha até 4 meses para retonrar desde a minha saida do Japão, depois perdia a passagem. Pensei muito, conversei com minha mãe, que também trabalha e sai do serviço as 17 horas, igual minha sogra no Japão, mas no Brasil não tinha hora extra, minha mãe não fazia hora extra nem meu pai.

O que mais mexeu comigo, foi a chance de poder estudar e concluir um sonho, de ter um diploma e poder trabalhar como enfermeira.

Pensei, pensei, pensei… Se conseguisse um trabalho aqui no Brasil, hora extra quase não tem, se não for em serviços como Shoppings ou restaurantes, todos os serviços são ate as 17 ou18 horas, na grande maioria.

Ganhar pouco? Sim mas no Japão eu ganhava mais de 200.000 ienes por mês, mas juntava pouco, tinha que pagar celular de 10.000 a 12.000, seguro do carro, gasolina e tudo que todos pagam, ajudar na prestação da casa, e me sobrava quanto? Quando minha filha ficava doente, sobrava para mim parar de trabalhar porque minha sogra não podia faltar pela idade, eu tinha que faltar para preservar o serviço dela. O engraçado é que no Brasil minha mãe pode faltar do serviço se precisar cuidar da neta.

No Brasil tem umas regras que defendem os empregados e as empresas não ligam de haver falta desde que apresentem atestados para comprovar e ainda se ganha o dia de serviço, nem imaginava que isto poderia existir. Nao sei muito sobre tudo e fiquei contente em saber que ninguén corre o risco de demissão por ter que faltar justificadamente.

Eu resolvi ficar, arrumei emprego num salão fazendo unhas, eu ja fazia as minhas sozinha. Resolvi arriscar a fazer um curso técnico de enferemagem, já que era mais rápido que fazer a faculdade, e poderia trabalhar logo. A demanda para enfermeiras é grande aqui.

Minha mãe disse que iria me ajudar a cuidar da minha filha, me daria suporte com a escola. Meu pai disse que faria um trabalho extra para me ajudar, tadinho estava feliz por nos ter de volta. Para eles eu nunca mais voltaria para o Brasil. Eles nao conseguindo viver no Japão pela idade ganhando pouco, teriam notícias minha e de minha filha somente pelo telefone e internet.

Meu pai me disse que era para eu não me preocupar, ele iria me ajudar a ter meu sonho realizado. Tenho uma família linda que Deus me deu. Não imaginava que minha família era tão bondosa ao ponto de fazerem tudo para me ajudar, agora choro escrevendo isso.

Mesmo sabendo que iria ver minha filha somente no final de semana eu resolvi arriscar aqui. Eu sairia do serviço e iria para o curso, mas afinal, qual a diferença do Japão? Quando chegava em casa, minha filha estava dormindo, e seria assim sempre, no Japão sem hora extra não se vive, tínhamos um grande compromisso em pagar a casa.

Resolvi arriscar aqui, por 2 anos sei que vou ficar sem ver minha filha durante a semana, somente todos os dias cedo antes de ir para a creche, pois vou levá-la todos os dias, mas será apenas por 2 anos, depois que terminar meu curso, vou arrumar emprego num hospital ou clínica que me libere as 17 ou 18 horas todos os dias. Não quero fazer turno da noite para poder participar da vida de minha filha. Este é meu plano.

Na minha cidade tem muitos japoneses trabalhando eu não acreditei o tanto de japoneses que estavam trabalhando por aqui.

Fui informada por uma cliente no salão que um mini hospital precisava de uma telefonista, vi a chance de ficar perto da minha profissão, que iria iniciar os estudos em janeiro, lá teria carteira assinada e todos os benefícios que os empregados tem direito.

A vaga era para telefonista de um mini hospital, quem sabe não virava enfermeira lá depois de formar como técnica. Fiquei muito empolgada com isso. Enviei um currículo, nem sabia preencher, fiz um copiando na internet e escrevendo a verdade, trabalhei no Japão por 12 anos em linhas de montagem. Falo português e um pouco de japonês.

Fui chamada para a entrevista. Esperando na sala de espera, chegou uma japonesa com uma menina de 7 anos, as duas conversavam em japones. Eu gosto muito criança e comecei a falar com a criança em japonês, a mamãe ficou contente que eu sabia falar e conversou comigo.

Ficamos conversando por 10 minutos ou mais. Ela disse que ainda não falava português, somente inglês, um pouco ruim mas se virava. O inglês dela era muito bom, fiquei com vergonha.

Neste tempo eu era observada pelo responsável da clínica e nem sabia. Na hora da entrevista, só me perguntaram quando eu poderia começar caso me interessasse o cargo de assistente de recepção com salário maior que telefonista.

Eu não entendi e perguntei o que estava acontecendo, meu chefe hoje me disse: você realmente entende como são os japoneses, a senhora com quem você estava conversando, sempre vem na clínica e fica brava, e hoje ela estava muito feliz por ter conversado com você, temos muitos clientes japoneses e penso que você poderá nos ajudar, esta foi a resposta do meu chefe.

Hoje estou trabalhando na clínica, muitos japoneses fazem as consultas e tratamentos aqui. A clínica atende pelo convênio da empresa japonesa. Eu praticamente trabalho conversando com os japoneses e meu japonês não é bom, era de fábrica, que aprendi sozinha.

Agora estou no primeiro mês de estudos de japonês, porque meu chefe está pagando um curso 3 vezes por semana. em 1 mês melhorei meu japonês de índio, e estudo no horário do trabalho, entro sempre depois do curso no serviço, de segunda, quarta e sexta, 50 minutos de aula.

Estou muito feliz de estar podendo fazer meu sonho se realizar. Eu acho que tudo foi uma somatória de ajudas, de minha família, de minha vontade e principalmente de Deus.

Consegui ter sorte de arrumar um serviço numa clínica, tive sorte de encontrar as pessoas na hora certa, a japonesa que conversei na sala de espera, meu chefe estar no local certo para escutar e verificar o que eu teria de diferencial, na verdade eu nem iria dizer que sei japonês, porque no Japão era o tantousha que falava tudo na empresa.

Eu falei com meu chefe que tive sorte, ele fala que eu tive competência, ainda não sei medir o que realmente foi.

Estou feliz de poder estudar. Como me sinto feliz de conhecer pessoas que falam de futuro, que planejam futuro, tenho amigos do curso de 18 anos de idade até 53 anos de idade, quantas pessoas pensando em futuro na idade de minha mãe, rs.

Minha mãe disse que depois quer estudar também para ser enfermeira junto comigo, acho que é possível, afinal ela tem apenas 49 anos, estudou o primeiro grau e vai fazer supletivo do segundo grau, pelo menos ela comprou as apostilas, rs.

O triste de tudo isto, é que ainda sinto falta de meu ex-marido, sinto que a falta da presença dele para minha filha, ele fará muita falta, mas não seria muito diferente do Japão. Tinha semana que meu ex marido nem via a minha bebê, e nos falávamos mais por email por causa dos horários.

Hoje eu posso dizer que esta página, antes de ser página, falava de coisas assim como eu estou passando. Esta página falava da oportunidade de aumentar a auto-estima, acreditar no nossos sonhos, na nossa própria terra, podemos ser respeitados como pessoas aptas a poder sonhar, estudando mesmo com 30, 40 ou 50 anos.

Eu gostaria de contar este história a todos, coloque na página se quiser, ou na sua pessoal, que meu exemplo sirva para muitas pessoas que deixam os sonhos por decisões de outros, por comprometimento de renda e obrigação que os outros escolhem para nós sem nos consultar se realmente queríamos isso.

Hoje não ganho muito, mas estou realizando um sonho de ter uma profissão, de poder trabalhar dentro do que sempre quis, e mesmo na faixa dos 30 anos, minha vida começa agora. Eu moro com meus pais, ajudo no que posso, hoje eles fazem por mim, amanhã farei por eles.

Hoje completou o primeiro mês de curso, estou muito feliz. Ainda tenho minhas crises de choro sozinha por ter deixado para trás uma pessoa que ainda não esqueci, mas que me machucou muito, que traiu minha confiança por algo que não entendo ainda.

As vezes sinto que faltei com minha palavra em não ajudar a pagar a prestação da casa no Japão, mas por outro lado penso que é um problema do meu ex-marido. Estas são minhas piores dúvidas.

Vou pensar que o tempo será o melhor remédio, agradeço a página por me alertar que ainda aqui tinha chance de ser alguém mais que usar um boné todos os dias e estar condicionada a receber ordens de pessoas sem competência e ter um encarregado, o tantousha, que somente pensava no lado da empresa e nunca me via como uma mãe.

Quando precisava faltar ele perguntava senão podia dar mais remédios e deixar a bebê na creche porque a fábrica estava isogashii. Não me via como uma mãe, e sim como uma pessoa que precisa cumprir o dia de trabalho.

Já peguei meus pais chorando de emoção por estarem me tendo de volta, por estarem conhecendo a netinha que eles só viam por internet. Quero ajudar meu pai em casa com as despesas e ele se recusa, o que repasso a eles para ajudar um pouco, estão guardando a minha filha.

Eu descobri porque chegam papéis de bancos onde vi que minha filha tem um poupança feita pelo meu pai. Somos pobres, mas agora sou feliz, tenho um futuro definido para os próximos 2 anos, e depois vou planejar meus outros anos, vou de pouco em pouco.

É muito cedo para falar qualquer coisa, ainda tenho muito medo, dúvidas, insegurança, mas com a força de meus pais, minha família, todas minhas primas e tios, eu sei que conseguirei vencer e superar tudo.

Ah, e sobre as unhas, rs, trabalho todos os dias com as unhas bonitas, rs, mas o boné não me abandonou, virou chapéu de enfermeira, fui dizer a meu chefe que as enfermeiras no Japão usavam bonés e uniformes, e ele implantou o chapeuzinho para todas as enfermeiras, telefonista e assistente, rs. Será que tenho que ter outra profissão para não usar boné?

Poderia falar mais, mas o texto vai ficar grande. Hoje ando de ônibus, pego 2 ônibus, um para serviço e outro para a escola técnica, mas somente por 2 anos, depois sei que será do serviço para o sorriso de minha filha, quando for buscar ela na creche.

Sinto feliz por minha filha poder falar de minha profissão quando estiver na escola: Minha mamãe é enfermeira e minha vovó também, quero muito que minha mãe estude. Vou fazer de tudo para que minha mãe estude depois de mim.

Para todos que sonham, eu digo, não pense que esta velho pela sua idade, não pense que o Brasil está acabado, eu vejo que aqui eu preciso ser mais informada, ler mais, minhas amigas de escola sabem muito mais coisas do que falar mal do Brasil ou pensar no próximo feriado prolongado, ou pensar na próxima noite em baladas, ou no próximo churrasco, aqui se fala de coisas que os brasileiros no Japão nem imaginam.

Em 1 mês aprendi sobre um mundo o que nunca tinha escutado por 12 anos no Japão. Vocês aí, se informem do mundo, tenham bons hábitos de leitura, se tivesse feito isto, tudo seria muito mais rápido para mim.

Que meu exemplo sirva de esperança para muitas pessoas, apenas o início de um sonho que desejo realizar. E agradeço a Deus, minha familia e minha filha que dão forças para vencer. Ainda quero voltar para escrever mais depois de minha formatura.

Que Deus abençoe a todos e que todos cuidem da família, não se iludam com bens materiais, nossa riqueza está na simplicidade de sabermos enxergar nossa posição na escada da vida, um passo de cada vez.

By Connexion.tokyo Team

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