Herança cultural dos nikkeis no Japão. Será que existe esta preocupação?

Se tem uma coisa que os brasileiros no Japão deveriam atentar com mais consideração é a herança cultural deixada por seus antepassados no Brasil, que é ter a Educação como prioridade básica. Mas não estou a falar da educação para passar em testes, para conseguir emprego, tampouco para ser um robozinho em fábricas, mesmo que seja como funcionário com contrato direto.

A Educação como legado deixado pelos japoneses no brasil foi uma educação para a vida, para o desenvolvimento da colônia, para que ela alcançasse o respeito que alcançou; uma Educação que preparou as gerações seguintes para o empreendedorismo, para a geração de riquezas, para a formação de profissionais nipo-descendentes com destaque na sociedade brasileira em diversas áreas. A comunidade brasileira no Japão carece de capital cultural proveniente desta herança cultural desprezada pela maioria dos que aqui estão.

Os japoneses no Brasil, nas diversas colonias espalhadas pelo território nacional, tinham o hábito de se reunirem em associações para deliberar sobre os assuntos que lhes diziam respeito, para pressionar políticos locais e até para decidir qual político iriam apoiar, inclusive financeiramente. Mas essas associações tinham por objetivo, em primeiro lugar, suprir a Educação dos filhos na língua e cultura japonesa. Antes mesmo de sedes de associações, os japoneses procuravam construir escolas! A colônia era para os japoneses um espaço sobre o qual todos tinham responsabilidades.

Já a nossa comunidade aqui no Japão…

A falta de espírito público e solidário na nossa comunidade brasileira, em questões fundamentais, demonstra o contraste em relação à respeitada cultura nipo-brasileira no Brasil. Parece que a comunidade brasileira no japão (90% de nipo-descendentes) não descende dos japoneses que chegaram ao Brasil na primeira metade do seculo passado, pois tamanho é o desprezo pelo legado na Educação deixado pelos japoneses no Brasil.

Se no Brasil, antes mesmo de sedes de associações os japoneses procuravam construir escolas, aqui, antes de escolas de qualidade (as empresas educacionais não devem ser incluídas aqui), a comunidade procurou, e ainda procura, dar prioridade para “oportunidades” que, de tempos em tempos, aparecem para ludibriar, enfeitiçar, tirar proveito da massa desiludida de brasileiros no Japão.

Vejamos: em 25 anos de movimento migratório, esta comunidade já foi vítima de picaretagens como: “Nipon-Med”, “Avestruz Master”, “Boi Gordo”, “Engoldex”, “TelexFree” e outras empresas que surgiram com a proposta de dar “um novo rumo”, “um suporte no retorno ao Brasil”, “abrir novos horizontes”, mas que não passaram de embustes fomentados por gente trapaceira, pilantra, e divulgados por pessoas que não costumam usar nem 10% da razão, preferindo a emoção, e que acaba envolvendo pessoas simples, que perderam muito dinheiro, pessoas estas que de tanta vontade de vencer acabam vendo “o amargo como doce”. (Não que a colônia de japoneses no Brasil estivesse isenta da ação de oportunistas, pelo contrário, nos primeiros anos após a II Guerra, muitos japoneses no Brasil foram ludibriados por compatriotas. Todavia, o legado na Educação prevaleceu como marca da colônia.)

Antes de Educação de qualidade, nossa comunidade saiu atrás de cursos diversos, sobretudo após a crise de 2008-2009; alguns erroneamente homologados pelo MEC ou equivocadamente patrocinados pela HELLO WORK, homologações e patrocínios muitas vezes obtidos por meio de conchavos, de tapinhas nas costas; cursos com materiais didáticos puxados da internet sem os devidos créditos aos autores, encadernados de qualquer maneira na tentativa de ludibriar o povo, cobrando valores altíssímos em progaramas com grade curricular mal estruturada; cursos onde a Educação passa longe, mas o diploma é uma mercadoria de suma importância, pois com ele em mãos, “as portas de empregos e de oportunidades estarão sempre abertas”, como dizem seus vendedores.

No entanto, quando a gente pensa que está tudo perdido, quando pensamos que as coisas boas foram desprezadas, que a herança cultural dos japoneses no Brasil foi ignorada por todos os nipo-descendentes no Japão, eis que somos surpreendidos por atitudes que nos fazem ver que nem tudo está perdido, que há esperança para nossa comunidade, que pequenos exemplos estão sendo dados aqui, ali e acolá, e que merecem ser destacados, na tentativa de que estes exemplos inspirem outras pessoas na comunidade a resgatar essa herança, esse legado da Educação, marca registrada dos antepassados da maioria dos que para cá vieram.

São atitudes pequenas ainda, tímidas, projetos educativos com alcance limitados a algumas poucas cidades apenas; não têm patrocínio, não recebem apoio como NPO, não contam com a “legitimação” por parte de consulados e embaixada – como muitas vezes acontece com cursos oferecidos Japão afora -, não são fomentados, articulados e planejados por empresas japonesas ou prefeituras, mas são trabalhos custeados pelos próprios envolvidos, que visam resgatar a herança cultural deixada pelos japoneses no Brasil, buscando consolidar espaços destinados à Educação e promoção da nossa cultura, assim como ser um lugar de apoio ao desenvolvimento pessoal e do pequeno empreendedorismo na nossa comunidade.

Entre esses projetos, destaco aqui um que tem nos surpreendido, que é o Espaço Simplifica, em Ogaki-Shi/Gifu-Ken, também conhecido como ESPASIM. Este espaço foi criado, desenvolvido e tem sido mantido por iniciativa da professora Shizuka Miyawaki, tendo autonomia na condução do projeto educacional em parceria com pequenas empreendedoras autônomas.

Segundo a idealizadora do projeto, “a ideia inicial era apenas criar uma escolinha de alfabetização e acompanhamento escolar para crianças que frequentam escola japonesa, e reforço escolar para crianças que frequentam escolas brasileiras, mas aos poucos a ideia foi tomando outros rumos, e com um espaço tão legal como o que conseguimos, resolvemos ampliar nosso público alvo. Agora Ogaki tem um espaço que apóia todo tipo de iniciativa cultural, iniciativas que envolvam nossa comunidade, que tragam momentos de alegria para adultos e crianças. O ESPASIM está de portas abertas para qualquer pessoa, de qualquer idade. De segunda a sexta oferecemos as aulas de alfabetização e acompanhamento pedagógico após o horário escolar, e a noite, aulas preparatórias para o ENCCEJA; aos sábados pela manhã, aulas de português, exceto no 2º sábado de cada mês, que pela manhã é o dia da OFICINA INFANTIL.”

Para o período de férias de verão, o ESPASIM oferecerá atendimento em horário especial, das 7:30 às 19:30. Durante o feriado escolar, o aluno brasileiro de escola japonesa terá acompanhamento, orientação e reforço nas lições para as férias; atividades lúdicas e aulas de português; atividades extras e contato com a cultura brasileira; lanche da manhã e da tarde; materiais das atividades e oficinas. O ESPASIM fica situado num imóvel de 50 metros quadrado, próximo ao JUSCO de Ogaki.

Como já mencionado, o projeto ESPASIM ainda é pequeno, está no começo, e o atendimento é limitado à região de Ogaki apenas. Mas que esta iniciativa sirva de exemplo para nossa comunidade, sobretudo para igrejas que possuem estrutura e que ainda estão em débito com a oferta de serviço social para a sociedade.

Se o(a) caro(a) leitor(a) também pensa que a comunidade brasileira no Japão deve se unir, se anseia por melhorias na Educação das nossas crianças, procure pessoas próximas a você que tenham este mesmo anseio e iniciem algo neste sentido na cidade onde se encontram, pois, “se queres ser universal, comece por pintar a tua aldeia.” (Leon Tolstoi)

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By Connexion.tokyo Team

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