Safadezas Made in Japan !

Ultimamente, estão sendo compartilhados vários vídeos/protestos de pessoas indignadas com as performances de “dançarinas mirins” de funk, como MC Melody e as dançarinas do tal MC Pikachu. Confesso que essas exposições de crianças me indigna também, sobretudo em relação a atitude dos pais, que são omissos ou têm intuito de tirar algum proveito financeiro através dessas exposições. Não custa lembrar que, segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (do Brasil), a exposição e utilização da imagem de crianças em atos libidinosos, obscenos e sensuais é crime.

Também tenho visto alguns elementos aqui da comunidade, uns pseudo-formadores de opinião indignados com as performances das garotas, dizendo que por isso não voltam para o Brasil, pois lá “tem muita safadeza”. As publicações sobre o assunto a em grupos de FB da comunidade acabam soando como “berrantes”, os quais arregimentam a “manada” formada por alguns brasileiros no Japão que não lêem de forma consistente, tampouco se informam adequadamente e que só servem para reforçar o coro: “é por isso que não volto para o Brasil, lá tem muita safadeza!”

Ora, será que lá no Brasil tem mais “safadeza” do que aqui no Japão, ou o acesso ao conhecimento dessas “safadezas” que é maior por conta do idioma e por beberem tão somente na fonte das mídias brasileiras, principalmente do Brasil? E será que essas pessoas não voltam para o Brasil única e exclusivamente por causa da “safadeza”? Seria o nível de “safadeza” do lugar o parâmetro para a escolha da residência?

Vejamos: se lá tem Mc Melody, aqui há anos tem as meninas de 7 a 16 anos – アイドル – que se vestem para dançar sensualmente para um bando de homens babões em casas de shows específicas. Este que vos escreve já viu inúmeras vezes a TV japonesa mostrando isto sem que ao menos houvesse uma ponderação ou crítica por parte dos apresentadores dos programas, simplesmente mostraram como uma tendência. Será este fato desconhecido para os indignados com a “safadeza” brasileira?

Ninguém nunca viu matérias sobre “reallity shows eróticos”, como um certo karaoke que foi divulgado recentemente na rede, no qual mulheres tocam nos órgãos genitais dos homens participantes enquanto eles tentam cantar? É bem verdade que o termo “reallity show” atualmente já traz consigo o conceito de “erótico”, haja vista o nosso BBB; mas no caso do referido Reallity Show japonês, o toque feminino na genitália masculina é parte principal da proposta do programa.

Será que os indignados do FB não sabem ou nunca viram reportagens sobre filmes de orgias – 250, 500 casais, sei lá – que bateram recorde pelo número de casais participantes?

E sobre a hipocrisia japonesa em punir a artista que esculpiu a genitália feminina enquanto a genitália masculina é objeto de veneração, estandarte de carro alegórico em procissão, penduricalho e até pirulito, será que sabem disso?

E sobre parques no Japão afora, que servem como lugares de encontros para prática do “coito a céu aberto”, onde casais fazem suas “chumbregâncias a luz da lua”?

E o que diremos dos snack’s – スナック – onde pais de família deixam de ir para casa mais cedo para beber umas e outras na companhia de outras mulheres e depois “conxambrarem” com elas?

Será que os indignados com a “safadeza no Brasil” nunca viram nos aeroportos locais velhos japoneses chegando no país trazendo na bagagem as novas versões de “mulheres de conforto”, com aval do governo local, o que constitui numa situação tanto turismo como de tráfico sexual já denunciado pelo Departamento de Estado dos EUA?

E sobre os casos de japoneses que permitem que suas esposas tenham relações extra-conjugais com o intuito de dar o flagrante, previamente combinado com as esposas, para extorquirem dinheiro do amante enganado, já ouviram sobre isto?

Ora, teríamos muito pano pra manga se fossemos discorrer aqui sobre casos e mais casos de abusos em trens, escolas, estações e empresas; sobre games violentos, criado por japoneses, nos quais o jogador tem de conseguir cometer um estupro virtual, isto mesmo, “estupro” (!), para mudar de fase no jogo; sobre golpes nas estações de trem, em que “mulheres iscas” com ajuda de comparsas tentam fisgar algum mané em busca de lucro fácil, simulando e alegando que sofreu abuso sexual.

E ainda há a questão da pornografia infantil no Japão. Aqui, a pornografia infantil é permitida em mangás e era permitido as pessoas terem arquivos e fotos de pornografia infantil em arquivo pessoal até o ano de 2014, quando foi regulamentada uma lei proibindo portar material pornográfico infantil em casa. Porém, em mangás ainda é permitido e não tem nem discussão sobre isto porque as empresas exercem pressão politica muito forte. No Japão a imagem da mulher é muito explorada como objeto de uso e prazer desta sociedade machista.

Sei que desconstruir uma ilusão, um mundo maravilhoso criado por nossa mente é incomodo. Tentamos justificar nossa permanência aqui no Japão ou nossa opção por morar aqui, muitas vezes, com motivos justos e coerentes. Mas usar o nível de “safadeza” como parâmetro já é demais. É tentar racionalizar ao máximo protelando a desconstrução daquilo que sabemos que é fruto da imaginação de muitos: um Japão maravilha.

Sei que muitos não vão concordar com o que foi exposto aqui, alguns vão xingar e outros entrarão em parafusos. Calma. Há explicação para isso. Já ouviu falar em dissonância cognitiva?

Nos idos dos anos 50, o psicólogo americano Leon Festinger, após uma série de estudos, investigações e pesquisas, chegou à definição do conceito de “dissonância cognitiva”.
Dissonância cognitiva é quando uma pessoa é confrontada por uma informação conflitante com aquilo que ela acredita ser o seu ideal, como estas que trouxemos acima. Desse modo, geralmente a pessoa confrontada desencadeia mecanismos de defesa do ego, tais como: negar a realidade dos fatos e alimentar explicações ou argumentos falsamente verdadeiros – como o “nível de safadeza”.

Ou seja, dissonância cognitiva é quando a pessoa ativa o seu mecanismo de defesa, na tentativa de fazer com que realidade dos fatos não ganhe força ante ao mundo que ela criou para si.

Resumindo: esse tipo de mentalidade é típico de pessoas fúteis e cheias de ideias fúteis, que não conseguem voltar no “salto alto” para o Brasil e daí ficam fantasiando um Japão “moralista”, “tudo certinho” e “exemplar em tudo”. Vamos deixar de hipocrisia. O Japão é exemplar em muitas coisas, não em tudo.

Abraços.

By Connexion.tokyo Team

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