O PERFIL DO BRASILEIRO NO JAPÃO.

O brasileiro veio ao Japão para trabalhar, juntar dinheiro e voltar para o Brasil. Trabalhou um, dois, três anos e quando estava na época que havia proposto de retornar, pensou bem e decidiu ficar mais um pouco, para aproveitar a estabilidade econômica do país.

Contudo, enquanto trabalhava e juntava suas economias, no Brasil o custo de vida se elevava em ritmo acelerado. Aquela noção de custo de vida barato “cristalizada em sua memória”, já não correspondia à realidade.

Sua permanência aqui foi ficando incerta, sua poupança ficava menor comparado ao custo de vida brasileiro. Mas, ele tinha estabilidade no trabalho, então, estava tudo bem!

De tanto trabalhar em linha de produção várias horas seguidas, assemelhando-se a um robô, e diante da incerteza quanto ao retorno e na expectativa de usufruir do fruto do seu trabalho – o dinheiro -, surge um escape para aplacar essa tensão, o consumo, e assim, a mudança no estilo de vida, os quais estavam reservados para quando retornasse ao Brasil. O brasileiro quis integrar-se à sociedade japonesa, equiparar-se ao japonês pelo consumo exagerado e sem preparação (carro, casas, financiamentos, cartão de crédito), não pela Educação.

Com isso, o brasileiro começa a dividir suas reservas entre poupar e gastar. Porém, dado ao prazer proporcionado, o consumo ganha mais e mais espaço, até chegar ao ponto do brasileiro não conseguir mais guardar nem um iene, tendo que recorrer às suas reservas para complementar o orçamento mensal.

Em 2008, com a crise, muitas empresas, por causa da incerteza da economia mundial, decidem demitir um grande contingente de funcionários, começando pelos temporários, e dessa categoria, os estrangeiros foram os primeiros. Boa parte dessas empresas haviam registrado lucros recordes nos anos anteriores e, segundo especialistas japoneses, não havia necessidade dessas demissões logo no inicio da crise, pois, muitas empresas poderiam manter esses funcionários tranquilamente. Com o pretexto da crise, quiseram garantir suas reservas e salvar seus lucros – é por isso que contrataram temporários (espertos, não?!).

Após as demissões, vcs sabem da história, o que se viu foi um bom número de brasileiros sem recursos, precisando da ajuda do governo para se manterem ou até trocando o visto por dinheiro, tendo que deixar o Japão e voltar para o Brasil com o suficiente para pagar a passagem e se manter por alguns meses.

Passado o momento mais crítico da crise, em meados de 2009, as empresas, aos poucos, voltaram a contratar. Porém, com duas condições básicas: contrato de menor duração (1 mês em algumas empresas) e redução do valor da hora de trabalho, consequentemente, a redução do salário mensal desses trabalhadores recontratados. Era essa a condição se quisessem retornar ao mercado de trabalho.

Hoje em dia é comum o brasileiro ter de recorrer a cartões de crédito, parcelando os empréstimos ou os gastos no cartão; tendo que trabalhar um mês pensando no valor da fatura do cartão que vence no outro mês. E a vida vai seguindo dessa forma, vão empurrando com a barriga…

Após 2010, quando terminou a ajuda de retorno oferecida pelo governo japonês, a população brasileira diminuiu um terço no Japão. O Japão já não é mais atraente para os brasileiros que estão no Brasil. Todavia, a maioria dos que se beneficiaram da ajuda querem voltar, mas, o governo dá sinais que dificultará o retorno desses brasileiros.

Atualmente, a faixa etária média na comunidade é de 37 anos. Acima dos 40 anos muitas empresas já não contratam. E 60 é a idade limite para quem está empregado – não é garantida a permanência até essa idade! E mesmo com o acordo previdenciário em vigor a partir de 2010, a futura aposentadoria desses brasileiros na idade média de 37 anos, por exemplo, será insuficiente para se manterem, dado às regras do acordo para quem não contribuiu o tempo máximo somando o tempo de trabalho aqui e no Brasil. (E tem gente ainda caçando se endividar, entrando em financiamento de casas novas, com valores acima de 23 milhões de ienes…)

Então, dado às incertezas e ao estresse cotidiano, o consumo desenfreado – mesmo com o prazerzinho que possa lhe proporcionar – não é a melhor saída para os brasileiros aplacarem o estresse provocado pela rotina de trabalho, indecisão e incertezas quanto ao futuro. É preciso replanejar a permanência aqui, ou o retorno para o Brasil, ou seja, planejar o futuro agora e ter equilíbrio daqui em diante, pois “a passagem do tempo deve ser registrada na coluna dos débitos dos projetos de vida. Ela traz perdas, não ganhos.”

Ps. Sobre a nova geração que vai trabalhar nas fábricas, ou que ficam abitoladas em igrejas, vivendo o hoje sem se planejar para o futuro, segue a observação de um cientista social:

“Esses trabalhadores não planejam para além do minimamente necessário, o que está relacionado com outra característica importante do nosso tempo, a presentificação, que faz com que os indivíduos vivam intensamente o presente, negando qualquer menção ao futuro”.

Abraços.

By Connexion.tokyo Team

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