O dia em que ensinei o que é o Tempo!

O dia em que ensinei o que é o Tempo

Por Fernando Castilho

Olá.

Como já contei em outro artigo, sou Professor de Matemática e Física do Ensino Médio no Nihon Latino Gakuin em Shiga.

Uma curiosidade muito grande entre meus alunos sempre foi sobre o Tempo. Afinal, o Espaço é mais fácil de definir que o Tempo, certo?

Sempre repeti a explicação clássica de Einstein mas ela não despertava grande interesse.

Desta vez resolvi ir além e pesquisar em outras fontes.

E encontrei no filósofo Agostinho que viveu mais ou menos lá pelo ano 600, e que mais tarde foi canonizado santo pela Igreja Católica, uma das explicações mais interessantes sobre o tempo.

Mas não imaginava qual seria a reação dos alunos.

Santo Agostinho dizia que, se alguém lhe perguntasse o que era o Tempo, ela diria que sabia. Mas se alguém lhe pedisse uma explicação, ela diria que não conseguiria.

Mesmo assim, em seu livro Confissões, ele ousou fazê-lo.

É mais ou menos assim:

Separemos o Tempo entre Passado, Presente e Futuro.

Peguemos o Passado. O que é o Passado?

Ora, é algo que já passou. Já foi. Não é mais.

E se não é mais, não existe, certo?

Os olhares para os lados demonstraram que a resposta incomodou. Era o que eu queria. Fui em frente.

E o que é o Futuro?

Simplesmente algo que ainda não é. Ainda não aconteceu. E se não aconteceu, então não existe.

Espanto nos olhos dos alunos. Burburinhos.

Prossegui.

E o Presente? Perguntei.

O Presente é algo fugaz, instantâneo.

E essa frase que acabei de dizer já não existe mais e foi para o Passado.

Portanto, meus amigos, o Presente também não existe pois ele sempre irá ao Passado que também não existe.

A classe veio abaixo.

Como assim? O que é isso? Caramba! Nunca tinha pensado nisso!

Então, meus caros, vivemos na ausência do Tempo?

Não. Se vivêssemos na ausência de Tempo, viveríamos a eternidade, sem Passado, Presente e Futuro, pois tudo sempre foi e sempre será.

Nó na cabeça de todo mundo.

Deixei que os debates acalorados acontecessem., afinal, esse era o meu objetivo, fazer os caras pensarem.

Não esperava que eles, tão acostumados às coisas tecnológicas, se revelassem tão interessados nessa conversa.

Curti cada instante.

Ao cessarem os espantos, ”desmenti” tudo que disse. Entre aspas mesmo pois de certa forma não foi desmentido.

”Pessoal, o Passado existe. Ele está em nossa memória, das coisas que fizemos, das pessoas que conhecemos, etc.

Vocês assistem a filmes que mostram coisas que já aconteceram, inclusive com atores que já morreram, não é?”

Então, nós trazemos constantemente o Passado para o nosso Presente. Então ele existe.

E quanto ao Futuro?

Ora, nós olhamos para o calendário e vemos que, se hoje é dia 20, amanhã será dia 21.

Conseguimos imaginar que amanhã estaremos na sala de aula assistindo à uma aula de Matemática.

Vemos a previsão do tempo e sabemos que amanhã, quase que por certo, nevará.

E também conseguimos programar aquela viagem de férias para o final do ano, por exemplo.

Ou seja, também transportamos o Futuro para o nosso Presente.

Os jovens só faltaram estourar fogos, de tanto extasiados com uma simples explicação do que pensou um filósofo do século VII.

Então, meus amigos, o grande Educador já falecido, Rubem Alves tinha razão.

Reclamamos constantemente que os jovens não têm interesse por nada a não ser games.

Isso é uma desculpa conveniente que muitos professores arrumam para disfarçar seu próprio desinteresse em dar aulas.

É preciso sempre despertar o espanto nos alunos. Quando isso é feito, revela-se como é gostoso aprender e conhecer as coisas.

E eles passam a gostar até de Matemática e Física.

Obrigado por ler até o fim.

Professor Fernando Castilho

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