A real necessidade de trabalhar tanto e suas consequências na família.
Parece que em todos os dias temos uma nova notícia de aumento nos preços. Sentimos a urgência em trabalhar mais para que possamos sobreviver ou manter o estilo de vida que adquirimos com o passar dos anos aqui no Japão. Carros novos e bolsas de marca, ou, mesmo para alguns, a casa própria; e passeios, muitos passeios, afinal, hoje em dia temos também o facebook, e todos nós gostamos de fotografar e exibir os lugares onde pudemos passear.
Mas para manter esse estilo de vida precisamos trabalhar, e com o aumento dos preços e impostos fica claro que a sociedade em que vivemos exige que trabalhemos cada vez mais, pai e mãe também.
Vejo pelos amigos solteiros, esses não tem dificuldades em manter o estilo de vida citado acima, mesmo com todos os aumentos, pois podem trabalhar e fazer horas extras, e todo o ganho será para uma só pessoa, ele mesmo.
Já para os amigos que tem filhos a realidade é outra, precisam trabalhar para manter o básico e se quiserem um pouco de luxo e prazer precisam passar mais horas dentro da fábrica, e todo o ganho será dividido entre pai, mãe e filho (isso quando é filho apenas).
As contas aumentam e fica evidente para a família brasileira no Japão que o salário do pai sozinho não sustenta a casa, o carro novo, os passeios e todas as coisas que a sociedade prega que precisamos ter. Com isso a mãe precisa trabalhar, não importa se tem em casa uma criança, um adolescente ou um bebê de colo, basta ter um local para deixá-los e conseguir o emprego.
Com dois salários entrando em casa podemos respirar um pouco mais aliviados, ou não?
Hoje em dia na verdade o salário da esposa e mãe tem sido usado nas despesas de casa e pouco ou nada tem sido poupado, muitas vezes nem a ajuda das crianças tem sido reservada para elas.
Resumindo, os pais trabalham mais para poder gastar mais, os filhos pequenos ficam em creches e escolas até os últimos horários permitidos, os filhos adolescentes ficam sozinhos e os pais mal sabem por onde andam ou com quem andam. Esses adolescentes sabem os horários que pais chegam em casa, tem acesso a celulares e internet, e se criam sozinhos.
E ainda, existe uma cobrança grande por parte dos pais que preferem que a escola – no caso, escola brasileira – faça tudo, como levar a criança ao médico e cuidar do filho por período muito longo para que eles possam fazer horas extras, ou mesmo ter mais tempo livre, simplesmente para tirar o máximo de proveito do tempo limite da escola.
Muitos pais passam a responsabilidade da Educação de seus filhos para a escola; ou seja: TERCEIRIZAM para os professores a tarefa de educar seus filhos, e estes, por sua vez, devolvem para os pais essa incumbência. Desse modo, as crianças e adolescentes crescem num “vácuo de educação”, que muitas vezes é preenchido pela tecnologia (iPhones, games), por “amizades” perigosas e em alguns casos, pelas drogas. Para muitos pais a educação ainda não é prioridade, nem a educação escolar, tampouco a educação no LAR, a essencial.
Qual o sentido nisso? Estamos vivendo uma época em que não trabalhamos mais para um futuro no Brasil, e todo dinheiro que entra, sai (e muito rápido por sinal).
Ensinamos à nossos filhos que ter é mais importante que ser? Quais as consequências disso adiante? Adolescentes delinquentes “sujando a imagem de brasileiros no Japão”? Qual imagem? A de que somos pais que se preocupam mais em trabalhar para ter um carro novo e exibir fotos de passeio em detrimento de poder participar da vida escolar dos filhos? Sejamos honestos com nós mesmos, como pai e como mãe o que temos priorizado?
E pensando sério: vamos nos preocupar mais com imagem que estamos deixando de nós para os nossos filhos, pois eles estão crescendo e, afinal, devemos ser bons exemplos para eles.
Texto enviado por uma mãe no Japão.
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