“Brasileiro classe media no Japão!”

Classe media no Japão.

“Estou vivendo no Japão há 12 anos com meu marido e 3 filhos.

Meu marido ganha 1.300 por hora. O salário era de 1400 ienes por hora, mas ele optou pelo Shakai Hoken e foi reduzido para 1.300 ienes a hora. Ele faz uma media de 2 horas por dia, com altos e baixo, tem adicional noturno pelo sistema nikkotai.

Eu trabalho como “Patto” – ganho media de 75.000 ienes por mês, sempre procuro ficar dentro do limite de isento para não pagar mais imposto e nem ter o Kokumin Kenko Hoken separado.

Somos 5 pessoas em casa, o valor do Koukumin Hoken por ano era de quase 550.000 ienes por ano. Quase 45.000 ienes por mês. Nunca pagamos a previdência social e agora temos dividas dos 2 anos anteriores, meu e de meu marido, quase 16.000 por mês para cada um.

16.000 x 2 pessoas = 32.000 x 30 meses de cobrança – 960.000 ienes.

Devido a esta cobrança, meu marido optou pelo Shakai Hoken, mas a empresa abaixo 100 ienes e disse se ele quisesse seria assim ou demissão.

Pelo nosso ganho, somos considerados classe media no Japão. Temos carros – velhos mas temos – temos celulares, comemos fora uma vez por semana e procuramos passear com as crianças nos feriados.

Conseguimos comprar uma casinha velha no Brasil, graças a Deus pagamos e minha mãe mora nela, cuidando e conservando.

Não preciso dizer que não temos dinheiro guardado, não temos mesmo. Meu marido sempre pagou a nossa aposentadoria no Brasil, pensando em dia dia voltar e ter uma renda mínima para comermos.

Moramos em apartamento particular, quase o mesmo preço de um apartamento publico. Eu morrei num apartamento publico e somente quem mora sabe que tudo é proibido, todos os japoneses de idade ficam controlando entrada e saída, barulhos das crianças e reclamam de tudo. Respeito quem vive nestes prédios e conseguem aguentar a pressão psicológica de serem controlados em tudo.

Tivemos nos últimos 3 anos muitas propostas de comprar casa usadas pagando o mesmo de aluguel mas, a empreiteira de meu marido o troca de serviço a cada 2 anos e ficamos inseguros de assumir um compromisso fixo. Ainda tem o problema de pagar 15 milhões numa casa usada e depois de 5 anos valer menos de 10 milhões. Nosso amigo comprou e entregou porque teve qu mudar de região seu filho mais velho quis estudar longe e pagar aluguel sozinho do filho era impossível.

Estou num grupo de apoio de mães no Japão e pelo que vejo, a grande maioria assim como minha família esta na corda bamba, pagando somente as contas do mês e mal pagando todas as contas.

Os produtos alimentícios estão muito caros, as embalagens menores com menos quantidade de alimentos.

Neste período nunca compramos um electrodoméstico novo. A televisão ganhada num cashback – mas tenho certeza que paguei mais caro do que ter comprado novo -.

Neste período meu marido ganhou somente o dia de trabalho, o mesmo como eu, somos diaristas sem nenhum direito e nem a Yukyu. Meu marido foi pedir Yukyu para resolver problemas de documentos e a empresa disse não. Resumo, perdeu o dia de trabalho.

Nós aqui no Japão somos mesmos diaristas. Nos feriados prolongados gastamos o dobro de tudo. O porque? Não trabalhamos e gastamos, então o dinheiro não entra e somente sai, o mesmo que perder 10.000 pelo dia de trabalho mais o gasto normal do dia de passeio com as crianças. Então os salários são menores do que estou falando. Conseguem entender?

Os amigos japoneses de meu marido ganham por mês, se trabalham ou não, tem o mesmo valor no final do mês. Porque somente os estrangeiros ganham por hora e não tem direito a nada?

Se vamos procurar saber algo sempre nos dizem não podem fazer nada porque foi opção nossa aceitar os contratos. Aceitamos porque não nos deram outra opção, ou aceita ou rua.

Quero lutar mas, fico impossibilitada em pensar sobre a insegurança de minha família, a insegurança de ter que mudar de escola das crianças, de nova adaptação e tudo mais. Temos família e não somos andarilhos.

Temos uma geladeira antiga que já compramos de segunda ou terceira mão. O mesmo com a maquina de lavar e ar condicionado.

Eu vivo num país de primeiro mundo, com a maior tecnologia do mundo e tenho os electrodomésticos mais atrasados do que meus parentes no Brasil. Vejo os parentes por la postando foto de geladeiras, fogões e outras coisas e eu aqui com tudo velho, fogão de 2 bocas e meia dúzia de móveis da Nitori.

Esta é a vida da maioria das famílias aqui ou somente eu estou nesta situação?

Temos amigos que compraram casa, compraram tudo novo e vivem economizando em comida para pagar o financiamento. Ainda bem que não privamos nossos crianças de poderem comer o que desejam. Sou feliz por isto.

Fui verificar o preço de uma geladeira e uma maquina de lavar que sempre sonhei. Resumo, ou paga a vista ou parcela no cartão de credito. E confesso que não temos condições de comprar.

Cartão de credito, conseguimos tirar um com limite de 100.000 ienes.

Sempre enviamos dinheiro ao Brasil para pagar nossa aposentadoria, enviamos um pouco para ajudar minha mãe com as despesas de casa que ela cuida. Sempre pagamos taxas de tudo no Banco Brasileiro no Japão. Quando compramos a casa no Brasil, pagamos parcelado, enviando dinheiro todos os meses, sempre pagando todas as taxas e o Banco Brasileiro no Japão nunca nos deu cartão de credito.

Eles exigiram um deposito fixo para nos dar um cartão de credito, então o cartão não é de credito e sim eles que trabalham com o dinheiro fica preso lá para ter o cartão valido. Eu fico revoltada com isto. Ninguém fala nada a respeito, nenhum dos jornalistas ou pessoas do meio dos representantes intelectuais escrevem sobre isto. Todo mundo com rabo preso em manter aparências e ninguém se manifesta pela comunidade.

Hoje no Japão a vantagem de estar aqui é somente pela pouca violência. Somos de uma cidade do interior do Brasil a violência tem mas é muito menor do que nas grandes capitais. E meus parentes por lá estão vivendo, comprando moveis, carros e outras coisas e viajando.

Meu marido para não dar o braço a torcer coloca a violência dos grandes centros como uma opção de ficar por aqui sendo um diarista sem nenhum direito trabalhista e nem podendo comprar um electrodoméstico novo para a família.

Sou a esposa dele, estou no mesmo barco, não estou reclamando por isto mas, não acho certo usar desculpas para simplesmente assumir que somos pobres num país de primeiro mundo. Não temos acesso ao conforto e comodidades que o Japão oferece a seus cidadãos.

Meu marido esta beirando os 48 anos, na empresa dele, ainda ele é o mais velho trabalhando por la. Os outros com mais de 50 anos em serviços com salários máximos de 1.100 ienes por hora. Este é o futuro próximo que o espera.

Acomodamos nestes últimos anos e nao nos dedicamos a procurar um serviço melhor ou direto? Trabalhamos em fabricas pequenas e meu marido ganha até mais que os japoneses com contratos fixos.

A realidade é que somos cercados de japoneses que vivem na linha da pobreza e por isto achamos que aqui é bom. Minha filha mais velha me disse que se a vida aqui é melhor do que no Brasil, porque os parentes de lá que “sao mais pobres” do que nós compram mais coisas do que nós aqui no Japão.

A internet serve para mostrar como suas as duas caras e coroas das moedas.

Triste dizer isto mas, sinto pena de meu marido que tenta esconder o sol com a peneira em assumir que aqui no Japão estamos na linha da pobreza. Os pobres aqui vivem exatamente como nós vivemos. Um dia após o outro e orando para não termos uma doença ou algo que nos impeça de trabalhar, se isto acontecer teremos que recolher ao governo para manter nossa alimentação com os programas sociais destinados a família de baixa renda.

Minha filha disse que deseja trabalhar logo para nos ajudar a ter uma vida melhor, a comprar electrodoméstico novos. Eu fico pensando se somente em casa nao conseguimos ter produtos novos. EU vejo nos classificados as pessoas brigando por comprar geladeiras grandes usadas de 10.000 a 20.000 ienes.

Minha vontade é ter uma geladeira grande para toda a família, ela custa hoje 230.000 ienes. Somente 1 mês de salário, qualquer um pode comprar irão dizer os que vivem no Brasil. O grande problema é que tirar este 1 mês de salário da economia domestica implica em muitas coisas para quem vive no limite.

Recebemos dinheiro do governo por nossas crianças estarem estudando e frequentando escola. Nunca usamos este dinheiro para pagar as despesas do mês. Este dinheiro é das crianças para pagar escola – segundo grau e faculdade aqui não é de graça e custa caro – eu não vou mexer no dinheiro das crianças para conseguir moveis novos.

O correto seria conseguir bens novos com nosso próprio esforço.

No grupo onde troco ideias com mães, eu leio pessoas querendo saber quando o dinheiro das crianças entram na conta para poder pagar contas de agua e luz.

Este é o Japão de hoje para minha família e acho que para muitas outras.

Se um dia lançasse o desafio de mostrar a sua casa, mostrar como é realmente a vida dos estrangeiros no Japão na timeline do FB a imagem dos Dekasseguis aqui iria mudar muito. Deixaríamos de os classe media no Japão e passaríamos a ser realmente os que vivem no limite de entrar num recebimento de ajuda governamental para poder sobreviver.

O Japão é muito bom para solteiros, para pessoas com filhos com problemas a exemplo que recebem do governo para não trabalharem e poder dar assistência aos filhos incapacitados. Isto eu acho muito interessante, famílias recebendo subsídios somente para cuidar dos filhos sendo isentos de qualquer tipo de contribuição, imposto e ate pagamento de taxas de auto estradas.

Agora o Japão para famílias, este Japão é aquele Japão que cada um pode contar. Eu contei a minha maneira pelo que vivo diariamente, O Japão que nos condiciona a aceitarmos nossa condição de não podermos trocar de vida.

Não existes serviços que paguem mais numa região que tem muitas famílias, as empresas trabalham em conjunto e na media dos japoneses ganhamos mais. O problema é que estamos cercados de japoneses que são empregados de pequenas empresas e nao das grandes corporações.

O Japão de hoje é um Japão de pobres, cada dia menos dinheiro no bolso dos japoneses, menos gasto, mais problemas para a economia e o país ainda pensando em fazer obras e obras que serão pagas com os impostos de quem? Claro, nossos impostos.

Estudar japonês e ter um emprego melhor? Mesmo assim os impostos e contribuições serão mais altos. ter um emprego que pague o dobro que ganhamos hoje? Quanto é necessário para uma familia de 5 pessoas viver com um padrão de vida de um país de primeiro mundo?

Não interessa o quanto ganhamos, interessa qual o mínimo para viver no Japão hoje. Alguém já fez contas de que somente de plano de saúde e previdência nacional uma família de 5 pessoas paga mais 900.000 ienes por ano?

Ainda temos, imposto municipal, do Estado,imposto de renda, imposto de carro, seguro de carro, seguro de vida – se o marido morrer as crianças precisam ser amparadas e quase ninguém paga seguro de vida -, agua, luz, gás, gasolina, aluguel ou prestação de casa, alimentos e mesadas das crianças – é pouco mais é custo – os amiguinhos japoneses ganham mesadas e temos que fazer o mesmo para nossos filhos estrangeiros. Depois tudo que comemos, bebemos e pagamos de serviço, telefone, agua, luz, gás, trem tem os 8% de imposto de consumo.

Como disse um cunhado no Brasil: vocês ai no Japão vivem para manter o país em crescimento e não para o crescimento de você e levam o brinde de pouca criminalidade para nao ficarem totalmente tristes e desesperados de estarem remando contra a maré. Meu marido sempre ficou bravo com estas palavras, até agora meu cunhado é que está com a razão.

“Adoro o Japão, não volto para o Brasil para morrer assassinado!” Eu vejo esta frase como: Aprendi a ter uma vida simples aqui, não preciso competir com ninguém mesmo porque ninguém sabe de minha real situação.
“Não vou ao Brasil nem a passeio!” Frase do meu marido que quer dizer: “Nao tenho dinheiro para ir ao Brasil passear!”.

Desculpe o desabafo, mas ser realista é algo que ajuda a ficar menos triste.”

R.F.K – 41 anos – SIC – Shizuoka

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