Algo me impressiona nas famílias recém-chegadas ao Japão: seu otimismo em relação à adaptação dos filhos, que não dominam nada do idioma japonês, em uma escola japonesa!
Eu cheguei ao Japão pequena, depois de ter frequentado até o quarto ano primário no Brasil. Estou escrevendo o que passei e o que presencio ainda hoje nas ajudas que faço às famílias que colocam seus filhos nas escolas japonesas, assim como alguns relatos de professores japoneses sobre essa situação.
Alguns pais até demonstram certa preocupação em relação a isso, mas no fundo parece que pedem para que outros pais, que já passaram pela experiência, que os acalmem; todos usam frequentemente a frase “criança se acostuma rápido”.
Como podem os pais de uma criança afirmar que essa criança vinda pela primeira vez a um país totalmente diferente do seu irá se adaptar a um idioma, a um novo grupo, a uma nova cultura, a um novo sistema que difere tanto daquele que ela veio? Na verdade não podem afirmar nada!
As crianças se adaptam, sim, mas não com essa facilidade que nós adultos gostaríamos. Isto é mais para nós nos livrarmos do peso na consciência, não representando, necessariamente, a realidade!
Dito isto, vejamos alguns conceitos antes de prosseguirmos:
1- Significado de adaptação: qualquer característica de um ser vivo que torne INTEGRADO ao ambiente e aumente as suas chances de sobrevivência.
2- Significado de integração: do ponto de vista sociológico, a ação de incorporar por completo os indivíduos estrangeiros ao cerne de uma comunidade ou de um país, criando uma sociedade única.
Prosseguindo…
Até onde podemos afirmar, com tanta firmeza, que os filhos estão adaptados à escola japonesa, visto que, quem escolhe o futuro dos filhos nesse caso são os pais? E a estes, só lhes restam, depois, se lamentarem ao ver o filho em escola japonesa sem que ele saiba o idioma japonês, e demonstrar essa preocupação exagerada à todos, inclusive ao filho; e isto, a meu ver, parece mais para se ‘vitimizar’ do que uma real preocupação com ele.
No final quem vai sofrer a adaptação por aquilo que não pediu? As crianças! Elas nunca têm culpa, porém são frequentemente sacrificadas pelas circunstâncias dos pais.
No entanto, parece-me que para desencargo de consciência de alguns pais, eles tentam se convencer de que: “crianças aprendem rápido”, “criança se acostuma rápido”, “matemática e inglês é igual no mundo inteiro”, “aqui é melhor em tudo se comparado ao Brasil”, “o ensino japonês é mais forte que o brasileiro, mas que diferença faz se todos irão disputar com japoneses?”. Percebam que não tem lógica em muitas comparações, apenas uma válvula de escape para aliviar a consciência de que a melhor opção foi o Japão.
Com todas essas frases de efeito sobre as crianças, não podemos esperar que elas quisessem nos decepcionar, não é? Muito menos que tenham liberdade de reclamarem.
Os filhos pequenos sabem quando os pais estão em dificuldades, as crianças ouvem e vêem tudo que não é dito, elas odeiam nos decepcionar ou então trazer preocupações para os pais que, muitas vezes, fazem questão de demonstrarem que estão sobrecarregados.
Assim sendo, falo principalmente por aquelas que já têm um histórico escolar no Brasil. Aqui é tudo muito diferente. Para os pais é fácil, sabem bem o que esperam por eles em uma fábrica, mas as crianças não são levadas às escolas japonesas sem preparo nenhum.
Hoje, grande parte das escolas com muitos estrangeiros tem intérprete para brasileiros. Isso é bastante confortável do ponto de vista dos pais, pois, quanto mais ajudas desse tipo, menos trabalho terão. Acredito que isso seja de grande ajuda para uma criança recém-chegada também, mas sempre tem aquele período em que você se sente “um peixe fora d’água “, essa fase pode passar rápido… ou não. De todo modo, o apoio dos pais é fundamental, já que não existe intérprete ou professor que possa substituí-los nessa função.
Entretanto, faço-lhes o seguinte questionamento: qual a imagem dos profissionais do ensino que lidam todos os dias com nossos filhos tem sobre nós? Respondo: É no mínimo vergonhoso. Ouvi de uma professora japonesa que os pais brasileiros só se preocupam com trabalho e esquecem que a educação dos filhos também é investimento.
Assim, nenhum japonês vai sentir pena de um brasileiro que ao invés de participar da vida dos filhos só pensa em trabalho, pelo contrário, pensará que somos incapazes ou pior, desinteressados na atenção das crianças!
Afinal, para quem é difícil a adaptação escolar? Para os pais que ficam preocupados ou para os filhos que ficam perdidos? E pensando sobre essa realidade, o que podemos fazer para aliviar a carga sobre nossos filhos? Diminuir nossa carga horária, participar das atividades escolares como os PTA’s, ajudar na lição de casa? Estudarmos juntos com os filhos ou simplesmente pensarmos em mais horas extras? Os pais estrangeiros sentam com os filhos e fazem as lições até que série? Primeira e segunda, depois do segundo ano já pensam que os filhos são capazes de saber mais do que eles? Os pais esquecem que a responsabilidade de ensinar é da escola, entretanto, com o suporte dos pais.
Aqui fica uma dica: não devemos deixar o dinheiro ficar acima de nossa responsabilidade de vivermos em família com nossos filhos, ainda que viver no Japão sem horas extras seja difícil.
Cabe aqui outros questionamentos: fazemos uma refeição juntos todos os dias com eles – pai, mãe e filhos? Nossos filhos são capazes de entender amor de avó, amor de primos, amor de tios? Pensem a respeito e não usem segurança como paliativo de escape, use realidade como forma de avaliar as escolhas que fazemos e até onde teremos tempo a eles para eles.
Para as pessoas que se sentem pressionadas, incomodadas no ambiente de trabalho, sofrem e querem mudar de serviço, podem fazer quando quiserem e quando tiver chances, já às crianças não lhes são dadas o direito desta mudança; às crianças nas escolas é dado apenas a opção de se adaptarem.
Vejam as diferenças entre adultos e crianças no Japão. Os pais podem mudar de trabalho por se sentirem tristes ou insatisfeitos com o ambiente, já as crianças, só resta-lhes se acostumar.
Ps. Este texto foi enviado por uma das nossas seguidoras. Ela é mãe tem filhos na escola japonesa e fez a opção junto com o marido de não trabalhar para participar da vida dos filhos pelos problemas que sofreu quando criança onde entrou na escola no Japão com 10 anos. Com experiências que viveu e vive sobre o assunto, hoje ajuda muitas famílias em traduções junto as escolas nas adaptações de crianças estrangeiras.
A intenção é fazer os pais pensarem a respeito do assunto sem envolver opiniões paralelas onde todas as pessoas tentam tampar o sol com a peneira. Cabe aos pais a responsabilidade da educação e aprendizado dos filhos.
Boa dica: faça uma refeição em família com seus filhos pelo menos uma vez por dia, isto é o mínimo que uma família deve desfrutar para não se afastar aos poucos.
By Connexion.tokyo Team
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