Quando as primeiras levas de brasileiros chegaram no Japão, mais precisamente na última década do século passado, as condições de trabalho eram bem diferentes das que encontramos hoje em dia.
Naquela época era comum o sujeito trabalhar 28 dias no mês, com uma carga horária de 12 a 16 horas diárias, sem acréscimo de 25% sobre as horas extras, sem seguro desemprego, sem previdência (Shakai Hoken), sem aviso prévio, sem direito a folga remunerada (yukyu), sem direito a negar horas extras, com retenção dos passaportes até a quitação das dívidas contraídas para a vinda ao Japão…
Não que não existissem leis e direitos, elas existiam e ainda existem, mas a falta de informação/conhecimento (hoje, fundamentais na chamada ‘pós-modernidade’) e a vontade de voltar ao Brasil faziam com que não atentássemos para esses direitos ou questionássemos a falta deles.
Conforme o tempo foi passando, dado a estabilidade do país (até antes da crise 2008-2009) e do acesso a alguns “sonhos de consumos” que foram disponibilizados para nós, passamos a querer viver um modo de vida que não estava nos nossos planos, pelo menos aqui, mas eram sonhos que guardávamos, ou melhor, lutávamos para viver no Brasil – carro, casa, negócios, faculdade para os filhos (ainda um sonho distante para a maioria) etc.
Hoje, de certa forma, temos assegurados alguns direitos que outrora nos fora negados ou omitidos. Mas aqui é bom salientarmos que, muitos desses direitos foram conquistados devido a CORAGEM de alguns poucos, que, muitas vezes, foram “criminalizados” por boa parte da comunidade (a parte hipócrita, pois na hora que o “calo aperta” quer correr atrás daquilo que um dia condenou), julgando-os como pessoas que “reclamam de barriga cheia”, que “estão achando que aqui é Brasil, para reivindicarem igual a sindicato e movimentos grevistas”, e coisas do tipo.
Brasileiros corajosos, ainda que poucos, pessoas do cotidiano das fábricas, que a nossa breve história migratória não conta, mas que devemos ter em memória, pois lutaram, mesmo que por seus interesses particulares, pensando só na situação momentânea deles, mas, que de certa forma, abriu PRECEDENTES JURÍDICOS para termos nossos direitos garantidos, ou ao menos para serem legalmente reivindicados.
Portanto, não tenha medo de buscar os meios legais, a justiça do trabalho, ou qualquer outro seguimento jurídico para reivindicar seus direitos. Tampouco zombe ou criminalize quem o faz, pelo contrário, apoie!
Ao buscarmos a justiça, seja ela do trabalho, penal, civil, estamos sinalizando que algo precisa ser AJUSTADO na sociedade, sinalizando que os contratos sociais precisam ser respeitados, que pessoas não podem continuar sendo lesadas, fraudadas e enganadas; e assim, buscar uma forma de garantir a boa convivência entre as pessoas (as partes envolvidas), e principalmente, corrigir atitudes e práticas que tenham por finalidade a exploração do outro.
Para finalizar… Os romanos antigos diziam que não devemos esperar ter sede para começar a cavar o nosso poço. Dito isto, espero que o(a) caro(a) leitor(a) não espere passar por situações extremas para começar a reivindicar seus direitos trabalhistas. Saia da inércia e da covardia, e da desinformação. Identifique pessoas da comunidade engajadas nas causas sociais, una-se a elas, e mobilize outros a se unirem também. Levante a cabeça e reivindique o respeito que lhe é devido nesta terra!
Abraço.
By Espaço Comunidade
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