O problema do bullying (ijime) no Japão, como todos já devem saber, é muito sério mesmo entre os próprios japoneses. Este problema atinge também uma boa parte dos estrangeiros que tem filhos nas escolas japonesas.
Ainda existe um desejo das escolas de acobertarem os fatos, não trazer isto a público e abafar. Talvez seja um receio por parte da direção de o nome da escola entrar nas estatísticas relacionadas ao bullying, e assim ter sua gestão manchada. Todavia, esta omissão e negligência tem servido apenas para aumentar o problema, o que também acaba corroborando a certeza da impunidade para os agressores.
Como descreve a mamãe da criança de 7 anos que sofreu bullying da professora na escola japonesa, se não houve o toque físico, pressão psicológica não é considerado um agravante sério para a polícia japonesa.
Hoje entendemos o porquê de tantos problemas de sociabilidade dos japoneses, a falta de interesse em namoro, casamento e a baixa taxa de natalidade que a sociedade japonesa enfrenta.
Tudo começou nos idos de 1948, quando o governo implantou a Lei de Proteção Eugênica para “impedir o nascimento de crianças inferiores do ponto de vista da eugenia (melhoria genética da população humana por meio do controle da reprodução)”. Esta lei autorizava médicos a esterilizar pessoas com deficiência mental ou defeitos genéticos sem o consentimento das pessoas, para aprimorar a nacionalidade japonesa; vejam onde o governo japonês interferiu na vida das pessoas. O mesmo com crianças consideradas com má formação ou doenças congenitas, muitas nasciam e morriam em seguida (assassinadas?). Este pensamento ainda prevalece, e muito, nos dias de hoje. Por que mobilizar a sociedade para dar atenção às pessoas com problemas – mesmo que poucos – se a lei dá suporte para ter uma sociedade sem problemas?
Neste ponto acima, algum de nossos leitores tem conhecimento destes fatos?
Pesquisem Google, na Wikipédia sobre a Lei de Proteção Eugênica implantada no pais em 1948.
Isto reflete nas escolas e empresas onde as pessoas são isoladas, tem tratamentos diferenciados por não se enquadrarem nos moldes que a sociedade acha correto, o mesmo acontece com quem apresenta diferença no desenvolvimento da aprendizagem, nas ideias e atitudes. Os grupos fazem isto, os professores fazem isto, as empresas fazem isto.
“Alguns”estrangeiros que chegam ao Japão e adoram o país, e o defendem com textos, com declaração de amor e comparam o pior de seu país com o melhor do Japão, são justamente as pessoas que não conseguiam ter uma boa sociabilidade em seu país natal e encontra no Japão, nesta insociabilidade, a sua melhor maneira de viver. Casa-trabalho-casa sem nenhuma vida social que agregue algo significativo ao desenvolvimento pessoal.
Os japoneses são respeitados pela sua formação escolar, se você tem faculdade será um ponto a seu favor para receber um elogio “SUGOI” – “que legal”, em um simples adjetivo português. Quem vos escreve aqui leu um texto de um brasileiro com formação universitária no Brasil (professor) e formação universitária no Japão dizendo que o Japão é o melhor país para viver, contudo retratando em mais de 70% de seu texto problemas que ele tinha de sociabilidade no Brasil, a mágoa que ele trazia por ter problemas de sociabilidade em seu próprio país foi o principal ponto para ele escolher o Japão, na minha interpretação.
Muitas pessoas com problemas de sociabilidade gostam muito do Japão porque não precisam ser competitivas, não precisam ter que usar argumentos para sobreviver, precisam apenas seguir as regras que a sociedade criou, como não incomodar ninguém. Estas pessoas são como a grande maioria dos japoneses, sem amigos, sem colegas ou pessoas queridas próximas. Seus assuntos principais são: seu trabalho, seu carro e seu “hobby” e outros conectadas 24 horas em grupos de pessoas com os mesmos problemas nas redes sociais, gastando mais tempo com futilidade e pedidos de ajuda para resolverem assuntos do que somando conhecimentos úteis como estudar a língua local para se virar sozinhos ou ainda fazer um trabalho voluntário nas horas de folga. Plano de futuro? Nem pensar. Vale ressaltar que, 60% dos homens japoneses que estão na faixa de 20 a 40 anos estão solteiros e sem parceiras e as 47% mulheres nas mesmas condições.
Ainda o alto índice de suicídio para um país de primeiro mundo, a baixa taxa de natalidade e as empresas no ramo de casamento nos grandes centros em queda incrível de faturamento configuram que o isolamento ainda está muito longe de acabar.
Por isto, pais, estejam atentos a seus filhos, estejam atentos se eles estão absorvendo essa cultura do silêncio, da aceitação, cultura de não discutir, se subordinando, mesmo estando com a razão. Percebam se seus filhos estão apenas aceitando passivamente as regras da sociedade japonesa por estas serem impostas goela a baixo.
Estejam atentos se as crianças estão sofrendo caladas para não causar problemas a família e ao seu grupo. As crianças sabem de todos os problemas dos pais e são programadas para resolverem seus problemas sozinhas com suas próprias forças. Percebam quando se escuta a expressão: “GANBATTE!” Os pais sabem o que realmente significa esta expressão para as crianças?
Aqui não estamos dizendo de leis do Japão. A leis existem e devem ser cumpridas e respeitadas por todos. Estamos falando de “regras criadas muitas vezes pelos mais velhos” que se tornam “leis nas mentes das pessoas” mesmo estando contra os princípios dos Direitos Humanos. E estas regras tem se transformado em “currículos ocultos” nas escolas japonesas e usado na doutrinação dos mais novos por meio dos mais velhos, muitas vezes através de humilhações, coerções, cerceamento de opinião contrária; mantendo os mais novos na subserviência, e assim contribuindo para que, mais adiante, aqueles que um dia foram oprimidos passem a ser reprodutores das mesmas práticas. É como disse um grande educador: “quando a Educação não é libertadora [quando ela é só doutrinação nas mentes fracas], o sonho do oprimido é ser opressor”.
O caso do desabafo da mamãe que teve seu filho de apenas 7 anos sendo excluído pela professora. Questionar se a exclusão se deu por ser estrangeiro seria complicado, mas pela forma que a professora atuou reflete que a professora simplesmente achou que a criança não estaria apta a seguir junto aos outros alunos. Então exclui-la seria a forma de manter o utilitarismo, o bem para o grupo. As escolas japonesas não estão preparadas para tratar com alunos com mais dificuldades e também não estão preparadas para tratar com alunos gênios, os quais acabam tendo o futuro limitado pelo professor, simplesmente para manter o grupo nivelado. Neste ponto ainda tem muito trabalho a ser feito. Que fique claro que a crítica aqui não tem por objetivo desqualificar o ensino japonês nem as atividades, mas sim criticar esse “currículo oculto” que se instalou no sistema e as práticas medievais advindas disso.
Não aceitem o ijime com seus filhos, com sua família. Se houve isto, unam-se, façam protesto, vão às ruas, façam movimento. Japoneses não gostam de movimentos, querem abafar. As manifestações em defesa dos Direitos Humanos devem ser feitas por todos que se importam com a causa.
Se o governo não cria alternativas para acabar com este problema, que comecem os estrangeiros a manifestar, seja por compartilhamentos na internet, seja com passeatas, por uma causa desta, logo as pessoas com os mesmos problemas se unem e com certeza a grande maioria será de japoneses. Façam como os americanos e europeus fazem aqui no Japão quando querem protestar contra a caça de baleias e a matança de golfinhos. Estendam faixas, cartazes, usem mega-fones, carros de som; enfim, façam barulho! Não deixem o ijime silenciar vossas crianças e famílias!
Responsabilidade e sabedoria não podem faltar em momento algum. Façam valer seus vistos legalizados, exijam e cobrem respeito. Quando se pagam os mesmos impostos, cumprem os mesmos deveres e está sobre as mesmas regras da lei, os direitos têm de serem iguais, independente da nacionalidade.
By Connexion.tokyo Team
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