Mulher no Japão ganha quanto? É possível economizar?

Cheguei no Japão com 20 anos, parei a faculdade de educação física por dificuldades financeiras. Achei a via mais rápida e fácil vir para o Japão conseguir dinheiro para a faculdade. Estou aqui por 12 anos.

Neste período consegui apenas comprar um carro placa amarela qua vale 250.000 ienes ou menos (nunca foi 0KM), tenho um computador que comprei há 4 anos, moro num apartamento de 1 quarto, (prédio novo de 4 anos de construção. Penso que tenho que ter um mínimo de conforto para descansar, não posso morar num apartamento mofado, estou no Japão, trabalhando e pagando impostos, não moro na India ou Vietnam). Pago aluguel de 52.000 ienes com estacionamento incluso.

Hoje ganho 950 ienes a hora – já ganhei 1.000 ienes na mesma empreiteira que depois da crise de 2008 abaixou os salários para 900 ienes e este ano passou para 950 ienes.

Pago todos os impostos, e aposentadoria de 15.590 ienes por mês desde o ano de 2011, quando vi que era obrigatório, e o seguro saúde de valor de quase 18.000 ienes por mês desde que cheguei ao Japão. Não tenho Shakai Hoken, se entrar meu salário abaixa para o mínimo de 820 ienes por hora.

Não tenho uma vida de luxo, tampouco ostento.

Compro produtos de maquiagem, algumas roupas sempre nas “Casas Pernambucanas” do Japão como H&M e Forever 21 – lojas baratas – tenho uma gatinha que adoro.

Meu serviço sempre teve altos e baixos, nunca mais de 2 horas extras por dia na media de 1 ano, as vezes muitas horas, as vezes poucas horas. Mas não mandam embora por motivo de queda na produção. Tenho amigas que pulam de cá para lá e somando o ano, entre dias perdidos procurando empregos, trocando de empreiteiras por salários de mais 50 ienes ou 100 ienes acabam ganhando menos que eu. Vejo no “Gensen” quando vamos declarar juntas os imposto de renda.

Emprestei pouco dinheiro a “amigos” e nunca recebi de volta. Tenho seguro completo do carro – sempre paguei completo. Não consigo juntar dinheiro, nunca consegui ganhar mais do que 180.000 ienes de salário.

Quando a empresa teve queda na produção na crise, por 7 meses fazia apenas “teiji” com zero de hora extra. Minhas amigas a maioria ficaram no seguro desemprego, até hoje nunca usei mas, pago todos os meses perto de 1.300 ienes. Ainda tem meses que não se faz mais do que 20 horas extras por mês no meu trabalho. Não é muito pesado, é somente sujo, até ai tudo bem, estou no Japão e não no Brasil, ninguém se importa se é sujo ou limpo, importante ter dinheiro final do mês.

Neste período sempre mandei 15.000 ienes por mês para ajudar na construção da casa de meus pais. Meus pais foram embora e fiquei sozinha por aqui, até agora querendo voltar com algo. Mas que algo? Dinheiro? Curso de línguas? Trabalhar 8 horas é impossível viver neste país…

Se morasse com eles teria que ajudar de qualquer forma. Neste período não estudei, não acompanhei meus amigos no Brasil que se formaram e hoje trabalham na área de seus estudos, os que não estudaram desempregados, outros tentaram a vida nos EUA e voltaram por não ter visto.

Acostumei com o Japão. Será que o Japão me tirou os sonhos reais e a vontade de lutar para ter uma vida melhor? Gostei de frequentar 2 igrejas, sai porque tinha pressão para pagar dízimos que sempre achei que deveria ser por vontade própria e não por pressão psicológica. Absurdo ter que mostrar recibo de salário para os responsáveis.

Aqui no Japão tem segurança, mas falta competitividade e valorização do serviço de mulheres. Me sinto como um robo, não posso opinar no serviço para melhorar o que acho errado e que gasta muito tempo. Tudo por lá é primitivo da época da pedra. Meu chefe diz que sempre foi assim e não vai mudar. Pelo menos não me demitiram na crise como já falei.

Onde errei? Onde estão os serviços de 1.200 ienes a hora por mês?

O Japão terá uma mudança rápida onde as pessoas ganharão mais?

As empresas anunciam vagas para tradutores e pessoas que falam 2 ou 3 idiomas mas salários ainda de 1.200 a 1.300 ienes e tem que ter proficiência 1 de japonês.

Estudar melhora a situação?

As pessoas que estudaram no Japão e dominam o japonês conseguem ganhar mais de 300.000 ienes por mês – as mulheres, trabalhando 8 horas por dia?

Não vejo que estudar e ter o japonês melhora as condições de vida no Japão, apenas dá um “status”, faz a gente ser menos enganada e mesmo assim as pessoas continuam a viver para pagar as contas.

Até os serviços de embaixada e consulados são de contratos por tempo e não empregados fixos. Fiquei pasma com isto. Será que é verdade mesmo ou quem entra consegue ser efetivado e ter pelo menos ajuda de transporte e bônus? Se me disserem que não, vou ficar mais preocupada ainda.

O que fazer para mudar este quadro?

Não enxergo luz no fim do túnel.

Viver por viver. Viver para pagar as contas e não conseguir ser melhor está me deixando frustrada.

Moro no Japão, país de primeiro mundo, onde as pessoas tem que ter melhores condições de vida.

Não muda esta rotina maçante e desgastante, e chega de querer balada no final de semana para mostrar a roupa nova, o carro novo e ficar ouvindo conversas de serviços, serviços, serviços e serviço.

Os homens deixaram de ser interessantes. Não sabem conversar de nada além de trabalho, roda de carro, que o chefe gosta mais dele… outros falam de seus hobbies e churrasco no verão… e outros ainda enviam convites para amizades no FB dizendo: “Você é linda, me “add”, outros enviando fotos de abdominais e corpo sarado… Mas, e a cabeça? Mais vazia que minha carteira. Nossa que mundo é este? Será que fiquei parada no tempo e todo mundo aqui ficou também?

Abro a internet e vejo amigos e parentes passeando pelo Brasil, Europa e EUA. Achei que era mentira, mas o povo vai mesmo. Financiam passagens e vão. Se financiam é porque tem credito e pagam.

Crédito? Consegui um cartão de crédito há exatos 8 meses. Fazia o pedido a cada 4 meses e era negado. Fiz uma conta no Banco do correio e veio o JCB com ETC que nem o carro tinha.

Achei uma amiga de colégio postando fotos da Tailândia e Camboja, aqui pertinho do Japão e eu apenas “viajando” para Nagoya para compras (ver vitrines) e balada no mesmo dia para não ter muito custo de pedágio e uma vez por ano para Tóquio: Brazilan Day.

Acostumar-se no Japão deixa as pessoas “bobas” ou fiquei boba por pura “ bobeira” minha?

Alguém aqui que sempre trabalhou em fábrica e vive sozinha conseguiu fazer uma viagem por ano e conhecer outros países? Conseguiram estudar japonês? fazer uma faculdade a noite? Conseguiriam viver com apenas 8 horas de trabalho?

Não sei sobre os dias que tem horas extras, sempre nos avisam as 17:00 horas. A fábrica tira nossas vidas e não nos deixa fazer programação. Sempre esperando se vai ou não fazer horas extras. Sempre na sexta tem horas extras. Se não puder fazer tem que avisar pelo menos 3 dias antes e eles me avisam as 17:00 se vai ter extra do dia. Com outras empresas é assim?

Os brasileiros no Japão aprenderam o inglês que eu ainda não aprendi?

Viver no Japão e não pensar como um cidadão de um país de primeiro mundo, nos deixa pensando que estamos bem, mas na verdade, nossas posses se resumem a 2 malas e conhecimento, apenas o japonês de fábrica que achamos ser necessário.

Quem está bem aqui? Somos considerados classes médias no Japão? Por favor, me digam que sim. trabalhar tanto, dedicar tanto tempo para não ser classe média vou ficar mais chocada.

Alguém está além disto que estou escrevendo aqui ou sou a única mulher que perdeu todas as chances de viver como uma cidadã de primeiro mundo pelos impostos e autorização legal de trabalho que tenho?

Fica a dúvida.

Se alguém puder me ajudar, ficarei grata.

M.C.H – Leitora de Aichi, 32 anos, solteira, sem filhos.

By Connexion.tokyo Team