Para o ano de 2015, o Japão aprovou um orçamento recorde de US$ 814 bilhões; tudo com o objetivo de tirar o país da recessão técnica.
Ora, se o governo tem dinheiro em caixa, que mal há em gastá-lo em benefício da população, fazendo a manutenção do país, garantindo a dignidade aos seus cidadãos? Até neste ponto tudo bem.
O Japão é difícil de sair do ranking em vários segmentos, sempre foi um país de ponta, porém, lidera também a posição de ter um endividamento publico de 400% do seu produto PIB, o maior entre os países desenvolvidos. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150212_relatorio_mckinsey_ru
Para quem não entende muito de economia, trazer estes dados e assunto não muda absolutamente nada; sendo assim, temos de explicar onde isto afeta: diretamente no bolso do trabalhador japonês. Mas como assim? O que tem a dívida pública do país a ver com o bolso do trabalhador? Simples, se o país esta com saldo negativo, precisa pagar a conta; e paga-se a conta de um país com a cobrança de impostos.
A maioria dos estrangeiros sem conhecimento técnico de economia não se importa para isto, mas sente na pele as diferenças quando precisa comer, vestir ou comprar algum produto para sua casa.
O Japão oferece uma estrutura muito boa para seus cidadãos, tudo pela logística de ser um país consideravelmente pequeno – do tamanho do Estado de São Paulo – e ter uma população de 127 milhões de pessoas.
O governo por sua vez, adota a teoria macro econômica keynesiana, precisando gastar em obras públicas, favorecendo a empregabilidade tendo de equilibrar oferta de emprego, salários a população e promovendo desta forma o giro do dinheiro interno que movimenta 60% da economia. Pois bem, tudo perfeito se não esbarrasse em alguns pontos negativos.
Hoje no Japão, não se tem mais mão de obra suficiente para promover grandes obras e há também quem questione se o país ainda precisa, de fato, de tantas obras novas. O país já tem uma estrutura muito boa e tem obras que nem são úteis e ainda, em alguns casos, nem se pagaram desde que foram inauguradas. Existem auto-estradas que não são utilizadas satisfatoriamente e o custo do investimento ainda virá nos próximos 30 ou 40 anos.
Agora, vamos analisar os comentários de quem apenas gosta e fica encantado com estas obras: “Dá gosto pagar imposto no Japão, aqui tem tudo para o cidadão, as pessoas tem uma infra-estrutura ótima”. Boa observação, mas todos os anos os impostos, sobem mesmo as obras não tem efeito custo-benefício.
Outros irão perguntar: “Mas por que fazem as obras?”. Simplesmente para manter uma corrupção velada e “legalizada”. Agora que todos entram em pânico, mas vamos lá: Se o país não precisa de obras por que as faz? Lembra da teoria macro econômica keynesiana? Então, o Estado precisa dar dinheiro as empresas de construção. Dar dinheiro? Sim, a partir do momento que você constrói o que não precisa você esta gerando lucro a uma empresa.
O lucro das empresas, se empregado no país, é muito bom. Mas acontece que as empresas empregam o lucro que recebem construindo mais fábricas e não é no Japão, não! Verdade? Claro! Onde as empresas japonesas estão construindo e inaugurando fábricas? No México, Canadá, Brasil (aos montes), África do Sul e China.
De vez em quando, vemos manchetes de reportagens do tipo: “Empresas japonesas saem da China e voltam para o Japão”. A reportagem deveria ser: “Empresas japonesas obrigadas a pagar direitos trabalhistas na China fecham suas fábricas por lá e trazem a produção ao Japão, contratando empregados estrangeiros por intermédio de empreiteiras, sem pagar os direitos trabalhista e quando pagam as contribuições previdenciárias obrigatórias – Shakai Hoken – ainda abaixam o salário dos empregados”.
O “divertido” da história toda é que as empresas japonesas tem lucros maravilhosos no Japão porque deixam de pagar os direitos trabalhista das pessoas que compõem sua cadeia de produção. As empresas têm lucro pelo uso de mão de obra estrangeira e o governo não garante o pagamento de direitos trabalhistas, mesmo dando o visto de trabalho e a legalização para estes estrangeiros.
Ainda, as empreiteiras fomentam uma propaganda por meio dos encarregados e entre a mídia estrangeira a fim de tirar a auto-estima do trabalhador, dizendo que eles “não merecem ter direitos porque não sabem falar a língua japonesa, são preguiçosos por não estudar”, e por ai vai…
Por outro lado, para dar o visto de trabalho não é exigido nada, mas para pagar direitos trabalhistas é exigido várias coisas. O mesmo com o pagamento de imposto, não se exige que os estrangeiros tenham de saber ler ou escrever japonês para pagar imposto. Pelo visto, para as empresas pagarem algum direito, elas querem exigir o domínio do idioma. Pura hipocrisia!
Muito engraçado isto. Será que ninguém pensa a respeito? E sobre o lucro das empresas japonesas, ninguém leva isto em conta? Qualquer empresa terá acréscimo no lucro se souber explorar seus funcionários. Ainda no caso estrangeiros sem visto, clandestinos, há uma brecha para o não pagamento dos direitos trabalhistas, pois o pagamento destes poderia comprometer a situação deles junto à imigração local, poderiam ser rastreados, presos e deportados. Mas o não pagamento de direitos trabalhistas para estrangeiros devidamente legalizados no país é inadmissível!
Então, seria o Japão um país em que a mão de obra estrangeira não é devidamente respeitada, apesar de este grupo social ser obrigado a pagar impostos? Sim. Isto mesmo, o Japão não oferece o devido respeito à mão de obra estrangeira.
Aqui, outros vão dizer: “mas os estrangeiro têm que agradecer, pois em seus países não ganhariam o que ganham aqui”. Aqui, eu pergunto a estas pessoas: vocês fazem conta de quanto se ganha em seu país e compara com o Japão, mas em seu país um aluguel de imóvel de 1 quarto de 20m² não custa o valor de 600 dólares, custa? Isto sendo o imóvel no meio do mato, porque se for nos grandes centros chega até 1.000 dólares.
“Ah, mas tem os prédios públicos, tem ajudas, mimimi…”, diria alguns. Sim, tem, mas qual estrangeiro deseja viver no Japão, sendo mais um lesado na sociedade pelas empresas e pela omissão do governo, sendo um pobre? As pessoas tem projetos de trocar de país para serem dignos e conseguirem seu próprio sustento e não ficar nas barba de um governo sendo um peso para as outras pessoas que pagam mais impostos de acordo com sua renda.
As ajudas governamentais funcionam como uma barganha. Se eu recebo algo é porque você está pagando. As ajudas vem dos impostos arrecadados, se há mais ajudas, os impostos vão subir. Os políticos não vão dar dinheiro de graça para o caixa das ajudas públicas. Alguém está pagando recebendo em proporções bem menores, se comparado ao que paga e se comparado às proporções que as empresas ganham, e este alguém é a classe trabalhadora.
Hoje, enquanto temos muitos japoneses querendo viver num país onde se tem condições de crescimento pessoal e profissional, existem pessoas que ainda desejam vir ao Japão para serem pobres, infelizmente.
Este paradoxo entre ser pobre no Japão e ser pobre num outro país, não pode ser moeda de escolha em viver em lugar nenhum do mundo. Para os mais necessitados, aqueles que trabalham mais e ganham um pouco mais estão pagando a conta, sem sombra de dúvidas.
Tocar neste assunto é complicado, delicado, mexe com o brio de muitas pessoas que, infelizmente, são exploradas de forma velada e não tem chances de serem vencedores, tem apenas uma certa dose de alegria em poder desfrutar de coisas que não tinha em seu país. Para outras pessoas é complicado lidar com esse assunto porque estão aqui pagando poucos impostos e recebendo ajudas, e assim, acabam endeusando o Japão. Mas é sempre bom ter em mente que as ajudas para crianças, as ajudas em aluguéis estaduais, municipais, todas as ajudas vem do recolhimento de impostos, pagos por alguém, talvez por você aí que dedicou parte do seu precioso tempo para ler este texto enorme!
Caro(a) leitor(a), este texto é um convite à reflexão, um convite a enxergar que o Japão está longe de respeitar direitos iguais para todos. Os estrangeiros e boa parte dos japoneses, aqueles excluídos da sociedade ou por não terem estudado mais, ou por morarem em regiões que não têm um polo industrial ficam reféns das empreiteiras que hoje já empregam mais de 36% da mão de obra ativa do Japão.
As empresas japonesas, como qualquer outra, não vivem sem lucro, querem cada vez mais e mais; saem de países como China que já obrigam a pagar os direitos trabalhistas. Outra grande mentira é a manobra para explorar uma mão de obra barata sobre o pretexto de “déficit de mão de obra”, que são os estrangeiros que tem visto para 3 anos apenas, sem chances de renovação. Assim, cria-se os visto de estagiários, para que os estrangeiros aprendam uma profissão. O empregado faz seu serviço, paga todo seus impostos, paga absurdos por taxas de contratações, aluguéis e tudo que as empreiteiras podem tirar. Ficam 3 anos, o governo recebe todos os impostos e contribuições para a previdência, as empreiteiras não pagam devidamente seus direitos trabalhistas. Os empregados ficam apenas 3 anos e entram novos.
Como vimos, esta é a “melhor” e mais eficiente maneira de contratação de estrangeiros. Mas e a língua? Não se preocupem com isto, existe os que estudaram aqui, os estrangeiros tradutores e para os serviços que estes estrangeiros são explorados não é nenhum bicho de sete cabeça, ou correr de um lado para o outro numa linha de montagem, ou apertar botão o dia todo, ou trabalho de construção, qualquer pessoa consegue fazer, não precisa falar. (percebam a ironia, por favor).
Acreditar que o governo vai pensar em outra forma de liberar visto para descendentes de descendetes? Esperar esta situação é tentar arrumar uma desculpa para não se atualizar e ser competitivo no seu país. Sejam realistas e se informem, não acreditem em meia-dúzia de pessoas que querem lucrar com sonhos.
Na Ásia, existe um numero muito grande de pessoas disposta a vir para o Japão e pelo custo benefício do governo e empresas – empreiteiras – ainda este sistema de exploração ‘escrava’ de mão de obra é mais lucrativa para todos do que trabalhadores por descendência. O governo fica isento de responsabilidades, as empresas tem empregados presos a seu quadro de funcionários por 2 a 3 anos.
Todos lucram e lucram bem. Além de tudo, não se corre o risco do país ter que se adequar sua estrutura para receber os estrangeiros. O Japão prende os estrangeiros em guetos rotativos e assim empresas e governo saem lucrando.
Por favor, leiam o texto e interprete-o como uma crítica ao governo japonês, não como uma sugestão contra os que lutam por uma vida melhor.
Abram os olhos e usem a matemática para saber que ao governo e empresas interessa o lucro, não interessa promover assistência social em primeiro lugar.
Um adendo: quem escreve esta opinião é uma pessoa que não tem nenhum conhecimento técnico sobre economia, apenas gosta de ler artigos a respeito e tentar explicar num linguajar que seja fácil de entender. Para os especialista de plantão, deixamos as portas aberta de nosso site/blog para correções e possíveis vinculações de artigos que falam a respeito, de uma maneira mais técnica.
By Connexion.tokyo Team
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