Uma historia real de uma menina que chegou criança no Japão, passou por varias situações e hoje dá exemplo de dedicação as filhas
Ela pediu para compartilhar sua historia com as pessoas, para servir de exemplo de como as coisas nem sempre caminham para um lado negativo e as pessoas são magníficas por saberem fazer escolhas corretas.
Quando os pais resolvem viver em outro pais, deixam para trás todos os sonhos que tinham para os filhos e começam uma vida do zero. Quando as crianças são pequenas, as decisões ficam mais fácil, pois os pais apostam que a adaptação e rápida.
Em alguns casos optar por melhores salários, nem sempre é a melhor. Pais com filhos não podem simplesmente pensar que as crianças se adaptam. As crianças perdem a identidade quando vivem num pais que não e o seu.
Leiam o texto, serve de exemplo de vida e para entendermos o porquê acontece algo com muitos jovens na comunidade brasileira, onde a primeira reação das pessoas e o prejulgamento sem antes saber o que motivou os jovens a agir numa situação.
Historia um pouco triste, mas com um final feliz de uma mamãe nova que ama incondicionalmente suas filhas e faz hoje, tudo para aproveitar todos os momentos com elas.
Vale a reflexão:
Há 21 anos quando eu tinha 6 anos meu pai veio para o Japão, deixando no Brasil minha mãe eu e meu irmão de 1 ano de idade. Claro que como a maioria ele veio com a intenção de voltar depois de 2 ou 3 anos.
Na época o Japão dava dinheiro e meu pai mandou muitas coisas e dinheiro para o Brasil, passou 2 anos ele voltou apenas para uma visita, eu sentia muita falta dele até porque minha mãe sempre deu mais atenção para meu irmão que além de ser um bebê tinha um problema sério na cabeça que fazia que ele tivesse convulsões, então para mim sobrou só a mãe rigorosa e brava .
Meu pai retorna ao Japão.
E passou mais 2 anos e foi quando minha mãe já não aguentava mais cuidar dos filhos sozinha, e resolveu vir para o Japão também.
Com 10 anos cheguei no Japão. Claro que uma criança nessa idade não tem poder de escolha sobre a própria vida, e eu só queria ter um pai, um pai presente na minha vida lá ou aqui não fazia diferença.
Cheguei aqui e fomos morar no alojamento da fábrica onde meu pai trabalhava, lugar velho dividindo banheiro e ofuro com outros moradores…
Claro ! Odiei! Mas… Criança não tem poder de escolha…
Minha mãe chegou aqui e não gostou de nada! Odiava Japão odiava japonês odiava comida japonesa programas de tv em japonês tudo!!!
Só gostava do salário que ganhava no fim do mês porque dava pra comprar mil coisas que ela acabou mandando pro Brasil na esperança de um dia usar lá …
Antes de entrar na escola japonesa fiquei na casa de uma brasileira que cuidava de crianças em seu minúsculo apartamento e cobrava seus 50,60 mil por criança,para cuidar muito mal aliás ….
Só o que meus pais pagavam pra ela ” cuidar” de mim e meu irmão já era uma quase a metade do salário da minha mãe …
Entrei na escola japonesa na quinta série , bem os adultos me falavam que matemática é igual em todo lugar do mundo, ou seja pelo menos isso eu teria que aprender sem desculpas de não entender, mas a realidade é bem diferente eu não entendia nada !
Apenas esperava a hora passar, aprendi a falar japonês em 1 ano e consegui assim fazer amizades que tenho até hoje….
Passou o tempo…
Meus pais trabalhando e sempre com hora extra, meu pai até se comunica em japonês mas minha mãe não aprendeu nada, só falava em ir embora daqui…
Eu me lembro do meu pai falando para eu estudar apra não virar ” peão de fábrica” e da minha mãe falando ” ano que vem vamos embora para o Brasil” .
Sem nenhum incentivo da parte deles eu me acomodei, não me esforçava pra aprender mais do que sabia.
Eu estava no último ano do chuugakkou , quando começa aquela falação sobre qual colégio você vai entrar e bem , eu sabia que não tinha chance de passar num teste desse e o que me esperava era a fábrica, mas eu não queria trabalhar em fábrica, nessa fase eu há tinha feito amizades e eu queria ter uma vida de estudante como todas as minhas amigas japonesas…
Minha professora arrumou um koukou que eu tinha chances porque a prova era apenas uma redação.
Passei! Entrei!!! 6 meses depois sai!
Meus pais ficaram desempregados e decidiram morar perto de alguns parentes em outra região ….
Criança não tem poder de escolha né ….
Com 15 eu estava de novo sofrendo a mudança , sair da onde eu morei e finalmente me adaptei para ir morar numa cidade cheia de brasileiros foi como se me tirassem o chão dos pés pela segunda vez, a primeira foi quando vim para o Japão .
A hipótese de meus pais me matricularem numa escola foi por água abaixo quando me ofereceram um emprego e eu vendo meu pai ganhando tão pouco e morando num apartamento de empreiteira aceitei.
Imagina uma menina de 15 anos acostumada a acordar ir pra escola voltar ajudar nos afazeres de casa e de repente eu estava saindo de casa as 6 da manhã para pegar um ônibus e entrar numa fábrica as 8 para sair as 9 da noite e chegar em casa as 10… nem toda empresa cumpre a lei com limite de horas para menores de idade.
Em uma semana fiquei doente , só vomitava, e fui diagnosticada com gastrite, o resultado? O que eu trabalhei em uma semana não deu pra pagar meus remédios rs.
Depois que sarei fiz alguns bicos até que entrei numa fábrica e fiquei por 1 ano e meio … Fiz boas amizades, mas hoje todas estão no Brasil.
Meu irmão sarou do seu problema na cabeça ainda no Brasil e durante todo esse tempo meus pais mantiveram ele em escola japonesa.
Eu Trabalhei bastante, e acostumei de novo no meio de brasileiros, mas durante todo esse tempo NUNCA tive meu salário, meus pais usaram tudo, meu cartão de banco e documentos tudo ficava com minha mãe.
Apesar de ser jovem e conhecer meninas da minha idade eu nunca podia sair com elas, não tive uma adolescência de baladas e passeios, minha mãe me proibia de TUDO, e eu tinha muito medo, porque ela sempre me bateu e sempre me criou de uma maneira que me fez desacreditar de mim mesma.
Eu fui muito reprimida pelos meus pais, eu digo meus pais porque embora meu pai não me batesse nem me humilhasse como minha mãe ele foi omisso, nunca se meteu nem se quer me defendeu. Ele somente trabalhou, trabalhou, trabalhou…
Conheci um menino e nesse tempo minha mãe foi para o Brasil para fazer uma pequena cirurgia. Eu pensava: já que não posso ter meu dinheiro vou fazer um filho, assim vou trabalhar, mas pelo menos será pelo meu filho!
Eu era muito …. Tonta!
Bem…Eu consegui o que queria né !
Mas aí aconteceu o que para mim era imprevisto, mas pra todos era óbvio , meu bebê nasceu e seu pai me abandonou…..
Até aqui eu preciso explicar que meus pais não guardaram nenhum dinheiro, tudo que entrava gastava, mas durante esse tempo eu nunca tive mais do que o estritamente necessário , embora tivesse trabalhado para isso.
Eu tinha 19 anos e meu bebê 6 meses… Bebê também não tem poder de escolha né ….
Minha mãe vivia reclamando de dores aqui e dores ali e nem trabalhava direito, então eu abaixei a cabeça , escutei minha mãe falar ” eu te avisei né ” com sorriso no rosto e pedi para que ela cuidasse da minha filha para que eu pudesse trabalhar, e assim tudo voltaria a ser como antes…
Mas é claro que tentei apartamento e ajuda para mãe solteira mas a prefeitura negou tudo colocando diversos motivos.
Bem, nenhuma empreiteira quer empregar uma mãe solteira com um bebê de 6 meses porque com certeza ela vai faltar….
Minha mãe aceitou cuidar do meu bebê .. POR 100,000 mil POR MÊS!
Eu concordei já que achei mais seguro do que deixar em uma creche brasileira e creche japonesa não adiantava já que dai a empreiteira não me contrataria porque creche eles sabem que se o bebê resfriar a mãe vai faltar, mas como eu ia deixar com a avó, consegui o emprego.
Pois é descobri que mãe de bebê e solteira também não tem poder de escolha….
Começo a trabalhar.
Novamente fiz amizades, mas dessa vez estava cansada, queria curtir e aproveitar minha vida.
Eu trabalhava de yakin, menti para minha mãe que ia trabalhar num sábado de noite e sai com as amigas da fábrica para uma balada.
Aos 19 anos com um bebê de 6 meses em casa pela primeira vez na vida eu estava me divertindo como uma menina da minha idade, e foi muito bom, dancei, conversei e ri muito, não bebi sou alérgica a álcool e até hoje não sei fumar , rs
Mas me diverti, e fiz isso mais duas três vezes e conheci um outro menino, trocamos beijos e e-mails…
Eu tinha na minha cabeça que eu era uma mãe solteira tipo, aí que vergonha sabe, e então não queria contar pra ele porque achava que ele e nenhum outro homem iria aceitar criar o filho de outro né ….
Até que um dia a gente trocando e-mail ele me disse que tinha sido casado e que a ex mulher dele deixou as 2 filhas deles com ele….
Ou seja ele me contou que era ” pai solteiro” !!!! Eu pensei: nossa eu aqui com medo de falar que tenho 1 filha ele tem 2!!!!!
Nessa época minha mãe começou a ter umas atitudes ainda piores comigo, a convivência com ela se tornava cada vez mais insuportável!
Talvez porque agora ela já não tivesse total controle sobre minha vida. Ainda com 19 anos e meu bebê com 10 meses decidi aceitar morar com meu namorado e suas filhas de 4 e 3 anos.
Não foi fácil, houve brigas entre nós e muitos problemas, infelizmente a ex mulher dele fez chantagem e disse a ele que optasse entre eu e as filhas dele, mas ele sabia que ela faria isso de qualquer jeito porque ela precisava morar com as filhas para através delas pegar o visto e poder morar no Japão…
Sofremos muito, perdemos as filhas dele, mas ela já tinha sido esperta primeiro e colocado no papel do divórcio que a Guarda ficaria com ela, só depois fomos informados que isso é irrevogável .
Nessa época eu não tinha muito contato com meus pais mas eu sabia que minha mãe estava enlouquecendo .Com 20 anos engravidei novamente, mas dessa vez tive um marido ao meu lado.
Tudo foi muito difícil porém, eu não estava sozinha . Minha filha nasceu e minha mãe ficou pior, muito pior. Eu a levei num psiquiatra. Provavelmente ela tem esquizofrenia,hoje vive a base de remédios.
Meu marido sempre trabalhou muito, ele não queria que eu precisasse trabalhar e deixar de cuidar das nossas filhas, passei necessidades mesmo, mas cuidei e ainda cuido das minhas filhas,porque eu sei que isso é importante!
Hoje elas estão no primeiro e terceiro ano do shougakkou, eu quero ajudar com a lição de casa, mas são coisas que eu mesma nem aprendi… O jeito é internet né , me ajuda muito.
Meus pais fizeram pelo meu irmão tudo o que não fizeram por mim, o que fez do meu irmão um menino mimado que jogou fora a oportunidade de entrar no koukou pra ficar em casa jogando game, hoje ele também tem sua própria família mas pelos meus pais terem feito tanta indiferença entre eu e ele sempre, a vida toda privilegiando ele e me sacrificando ,por causa disso nós brigamos e já tem bastante tempo que não nós falamos.
Já fazem 8 anos que estou com meu marido, ele criou minha filha como se fosse dele , e juntos tentamos fazer diferente do que nossos pais fizeram , ele também veio com11 anos pro Japão, também não terminou estudos.
Sabe o que eu acho ?
TUDO exatamente TUDO o que meus pais fizeram foi em vão …
Eles conseguiram comprar uma casa no Brasil , mas vivem num quarto e sala aqui, minha mãe sofreu muito, fez uma cirurgia recentemente e colocou uma prótese na perna.
Os únicos 2 filhos não tiveram estudo não tivemos nada! O dinheiro ganho foi gasto, e ainda hoje é assim.
Eu não posso me arrepender, eu simplesmente acatei a tudo.
E quando me revoltei fiz um bebê rs eu amo minha filha mas sei que não foi uma atitude inteligente rs, mas eu não me arrependo porque se eu não tivesse engravidado eu não teria me libertado!
Eu tenho 27 anos meu marido 31, nunca voltamos ao Brasil falamos japonês o suficiente para… Trabalhar em fábrica!
Nossos pais vieram ao Japão por dinheiro e por dinheiro perderam a união na família, perderam A FAMÍLIA!
E o dinheiro compra muita coisa, mas não compra amor! Muitos vieram e ainda chegam aqui assim… Sem poder de escolha sobre a própria vida!
Deixam pra trás os amiguinhos, os priminhos, a escola, o cachorro, o vovô a vovó…. As escolhas dos pais vão interferir diretamente na vida das crianças…
E o que uma criança pode fazer diante disso?
Eu não sei!
Eu conheço gente que conseguiu, gente que veio e conseguiu manter a união na família e também usar o dinheiro de maneira inteligente, mas não são a maioria….
Hoje eu não me vejo voltando ao Brasil, vim pra cá muito nova e assim como meu marido não temos tanto contato com quem ficou lá..
Por tanto voltar e pedir ajuda é correr um risco que eu não sei se tenho coragem de fazer minhas filhas passarem pelo mesmo caminho que eu só que inverso…
E também porque eu e meu marido não temos estudo pra chegar lá e sequer escrever um currículo .
Meu marido trabalha muito das 8:00 as….. 21:00… 22:00….23:00….
Até a hora que o serviço acabar!
Durante a semana não convive com as filhas, mas para nós isso é normal e tentamos manter a intimidade entre ele e elas o máximo possível , fazemos o possível para que elas não fiquem carentes de atenção.
Eu estou na auto escola japonesa, estudando feito doida, pela primeira vez na vida acho que vou concluir algo que comecei, porque agora eu tenho o poder de escolher.
Nessa fase da minha vida estou muito acostumada com o Japão , gosto da comida, gosto do atendimento em lugares que vou, e também tem as coisas que não gosto, sabetsu (discriminação) por exemplo… É triste né..
Me preocupo com nosso futuros aqui, sei que o Japão não é um conto de fadas…
Por isso não me arrependo de ter tido minhas filhas tão nova, eu sei que quando elas crescerem ainda terei tempo para trabalhar.
Por enquanto quero dar a elas a atenção que elas precisam na idade de agora .
Essa é uma pequena parte da minha história, eu só vou pedir para que você não compartilhe com mais ninguém meu nome ta?!. Mas eu queria te contar, pois sei que você se interessa e pra você ver que o ponto de vista de um pai que veio e de um filho podem ser completamente diferentes….
Meus pais não pensaram no futuro hoje meu pai trabalha e não sabe o que vai fazer depois de aposentar, estão pensando até em vender a casa do Brasil.
Muitas vezes vemos brasileiros cometendo crimes e fazendo a comunidade ” passar vergonha” mas não podemos falar mal, a gente não sabe o que essa geração que perdeu literalmente tudo está passando hoje.
Para minhas filhas eu quero que elas possam escolher!
Dar a elas o direito o poder de escolherem o que as fariam felizes!
Independente de estudos ou com quem um dia elas vão se casar, eu quero que elas tenham um lugar onde elas se sintam seguras e felizes.
Esta e a historia de uma menina que virou uma grande mamãe, se gostaram, por favor, compartilhe, historias reais são boas para tentarmos sermos pessoas melhores todos os dias para nossa família, para nós mesmo.
Esta história só foi compartilhada por estarmos garantindo o anonimato da pessoa e sua família de acordo com que nos foi pedido. A mamãe aqui, depois me escreveu e disse que gostaria que a historia servisse de exemplo para as pessoas pensarem em querer ser melhores em afetos, viver em harmonia com a família do que pensar em dinheiro.
By Connexion.tokyo Team
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