Desejo PAZ, AMOR e ALEGRIA a todos que lerem até o final, e a todos que, como eu, amam e querem o bem do Japão, mesmo sendo críticos em relação a alguns pontos.
Depois de ser diagnosticados por “especialista” como uma pessoa que precisa de tratamento psicológico profissional, resolvi voltar aqui com mais um texto a fim de fazer a ‘catarse’ (psic.: expressão verbal de experiências traumáticas recalcadas, como por exemplo, ler demasiadamente “tá insatisfeito com o Japão, vaza!”, a fim de alcançar cura). Vamos lá.
Começando…
O Japão possui leis trabalhistas que devem ser respeitadas, tanto leis formuladas aqui mesmo por seu parlamentares, como responsabilidades assumidas como signatário de vários tipos de tratados e declarações internacionais. Todavia, quando os de fora, os estrangeiros — os brasileiros mais especificamente, pois é neles que quero focar —, que também são contemplados por essas mesmas leis, vão reivindicar o cumprimento delas para si, e tornam suas queixas públicas, principalmente em comentários no Facebook, não raramente são desanimados, e até escorraçados, por um: “não está satisfeito, vaza!”
Ao ver este tipo de comentário, corriqueiro nas redes sociais, vejo um olhar simplista, uma demonstração de falta de argumento e de incapacidade de lidar com aquilo que a pessoa sabe ser injusto, mas quer tentar tampar o sol com a peneira.
Hoje, de certa forma, se temos assegurados alguns direitos que outrora nos fora negados ou omitidos foi devido a CORAGEM de alguns poucos que botaram a boca no trombone, e que, muitas vezes, foram “criminalizados” por boa parte da comunidade (a parte hipócrita, pois na hora que o “calo aperta” quer correr atrás daquilo que um dia condenou), julgando-os como pessoas que “reclamam de barriga cheia”, que “estão achando que aqui é Brasil, para reivindicarem igual a sindicato e movimentos grevistas”, e coisas do tipo. Ou seja, criminalizados pela turma do: “não está contente, vaza!”
Talvez estes mesmos que usam este bordão são aqueles tantos que aplicam o princípio implícito nessa frase e estendem essa mentalidade para outros âmbitos da vida. Assim, fica fácil entender o porquê de tanto divórcio e menores infratores aqui na comunidade.
Talvez a explicação para isto seja a mentalidade de pessoas que, não estando contentes com o cônjuge, pensam: “vou vazar!”; não estando contente com os filhos, pensam: “vou vazar!”. Esta é a mentalidade, pois tudo pode ser resolvido mediante um: “vaze!”. Fácil e simplista assim.
Acontece que, queixar-se de uma injustiça, queixar-se de um ponto específico, como trabalho ou impostos, escola ou professores, empresa ou empreiteira, ou matança de golfinhos, não significa estar insatisfeito com o todo, com o país na sua totalidade — sua cultura, seu povo, suas belezas naturais, os pontos positivos etc. etc.
Percebe-se que aqueles que, ao se depararem com alguma queixa ou crítica em relação a algo específico, logo soltam o bordão “está insatisfeito com o Japão, vaza!”, são, na verdade, pessoas que não sabem a diferença entre ‘todo’ e ‘partes’, tampouco sabem a diferença entre ‘direitos’ e ‘favores’.
Acreditam que o acesso a diretos, que costuma estar ligado a um dever prévio, trata-se de um “grande favor” recebido — você só tem direito por aquilo que você paga e/ou arca com alguma obrigação prévia.
Para mim, se a pessoa não está satisfeita com algo — e isto não quer dizer que ela esteja insatisfeita com o todo, como quem usa o bordão acaba erroneamente acusando —, ela deve e pode procurar enxergar os problemas por perspectivas diferentes e buscar a melhor solução para o problema enfrentado. Simplesmente, “vazar daqui” não é a única possibilidade.
Se você paga impostos (dever) e recebe algum benefício oriundo do arrecadado em impostos ou a reversão deles em serviços públicos (direito), você não está recebendo nenhum favor do governo, pois isto é direito, e ‘direito’ não é ‘favor’.
A turma que acha que direito é favor, e que você deve ficar eternamente grato por isto, é a mesma turma que que adotou a filosofia do “não satisfeito, vaza!”. E apesar de serem bem críticos ao Brasil, ao povo brasileiro e sua cultura, estes com esta mentalidade estão, na verdade, bem alinhados com a mentalidade de quem “endeusa o estado”, e que deve ser grato a governo por tudo. Esta mentalidade está impregnada em certas camadas da sociedade brasileira desde o Brasil colônia e permanece até os dias de hoje; e aqui do outro lado do mundo, gente que aparentemente se acha superior por estar aqui, inconscientemente mantém este mesmo modo de pensar.
Uma mentalidade de quem “beija-mão” e “coça as costas” daqueles que, na verdade, não lhes fazem nenhum favor. E ainda se abespinha quando vê que outros não estão seguindo a cartilha do “seja grato ao Japão, não reclame de nada, nem de injustiça sofrida”. Uma mentalidade que tacha de ingrato quem reivindica por ‘direitos’. (Ora, eu só sou ingrato quando não agradeço por ‘favores’ recebidos. Por ‘direitos’ eu não preciso agradecer e nem ficar bajulando dizendo: “Eita! Obrigado JapãoZão bom demais da conta…”)
Geralmente, pessoas assim são de baixa escolaridade e escasso capital cultural, pessoas com visão de mundo limitada e com dificuldades de encarar e ler o mundo por outros prismas.
Também percebo que este tipo de mentalidade, geralmente, parte de pessoas, até certo ponto, frustradas por terem vindo ao Japão na expectativa de retornar ao Brasil, mas que por não terem conseguido retornar com a “banca toda”, no “salto alto”, ostentando para parentes e amigos as “conquistas no Nihon”, decidiram ser radicais no trato com as pessoas que apontam problemas enfrentados aqui, pois o apontamento de problemas da comunidade acaba provocando dissonância cognitiva nesses “bajuladores do Japão”.
Talvez, lá no Brasil, parentes e amigos dessas pessoas se desenvolveram mais do que elas, do ponto de vista social, cultural, financeiro e, principalmente, intelectual. Daí, esse pessoal do “não está contente, vaza!” prefere tentar invalidar qualquer coisa que seja relacionada ao Brasil, até mesmo vendo perigos exacerbadamente em tudo e em todos, escarnecendo do próprio país e fazendo comparações descabidas a fim de se sentirem melhor aqui.
Ou: será que essas pessoas ficam com receio de que lá no Brasil parentes e amigos fiquem sabendo, por meio de publicações e comentários no Facebook, o que de fato ocorre aqui, e assim ficam tentando a todo custo silenciar as “vozes dissonantes”, os arautos da realidade no Japão? Será?
É até compreensível se for isto, pois, afinal, a pessoa passa tanto tempo aqui, querendo bancar para quem está lá que aqui ela está “por cima da carne seca”, que aqui é “só vitória”, e daí vem um “Zé mané” contar a real… Bem, é só uma hipótese…
De todo modo, finalizo esta minha catarse com uma última palavra à turma que gosta de dizer: “não tá contente, vaza!”…
Coloca uma coisa em definitivo na cabeça: o país não é seu, seja humilde e compreenda isto. Ainda que você seja um lambe-lambe, cheira-cheira, coça-costas, beija-mão, puxa-saco e bajulador de japonês, e que tenha todos os trejeitos de um nativo, e faz de tudo para ser aceito, desesperadamente, como um japonês… O país não é seu para mandar alguém vazar.
E outra, deixa a pessoa contar o problema dela no Facebook, vai. Queixar-se das dificuldades vividas aqui nas redes sociais talvez seja a única forma que a pessoa tem para fazer a ‘catarse’ e ficar aliviada.
Ufa! Sinto-me aliviado…
By Connexion.tokyo Team
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