Estatística apontam que menos de 40% dos adolescentes brasileiros egressos do ensino fundamental conseguem ingressar no ensino médio japonês, e mais de 10 mil crianças brasileiras apresentam problemas de aprendizado, como já relatado pelo governo japonês e divulgado recentemente. Há uma tendência na nossa comunidade em pensar que o tema educação só pode ser discutido por um grupo seleto. Considerando este cenário, apresentamos a seguir, de forma curta, clara e direta, os 10 pontos que todos os pais deveriam saber sobre o atendimento de crianças estrangeiras em escolas japonesas, e de lambuja, duas dicas para os pais contornarem a situação, visando o bem-estar da criança em primeiro lugar. Em frente.
1 – O atendimento ao aluno estrangeiro, por meio de salas especiais e de interpŕetes nas escolas, é garantido no Plano Básico para a Promoção da Educação (2008), do Ministério da Educação do Japão, no capítulo 3, na meta 6, que diz assim:
“Promover a educação para os estudantes estrangeiros:
A fim de melhorar as condições de acolhimento de estudantes estrangeiros em escolas japonesas e também melhorar o ensino para os estudantes estrangeiros, o governo está promovendo a melhoria do desenvolvimento e qualidade dos recursos humanos envolvidos na orientação para os estudantes estrangeiros, incluindo ajudantes capazes de falar a sua língua mãe, e também promover a investigação e o desenvolvimento de métodos de orientação […]”
2 – Isto tudo escrito acima é muito bonito, muito lindo, muito maravilhoso, reforça a ideia de “Japão bom demais da conta”, MAS, Porém, contudo, todavia, entretanto (e todo tipo de conjunção adversativa possível)…
3 – A citação acima faz parte de um conjunto de estratégias para o atendimento educacional de pessoas com DEFICIÊNCIA- ou seja, a criança estrangeira já ingressa no sistema escolar com o estigma de deficiente, marcada como incapaz; e o que é pior, essa concepção vem de cima, das esferas governamentais já os considerando pessoas com deficiência, assim como a pessoa com deficiência cognitiva, auditiva, visual etc.
4 – Nesta perspectiva, quando toca o sinal para o início da aula de Kokugo (Língua Nacional/Japonesa), por exemplo, a criança estrangeira tem de sair da sala de aula regular, deixar o ambiente normal de aprendizagem junto aos demais e se dirigir à sala especial, comumente chamada de “nihongo kyoushitsu”; neste momento, ela sai de sala levando consigo o estigma de incapaz, de deficiente imposto pelo sistema.
5 – Este procedimento exposto acima, além de estigmatizante e excludente, tem se demonstrado ineficaz na aprendizagem, servindo apenas como uma medida paliativa, dessas que são feitas só para constar em relatórios e sinalizar que alguma coisa está sendo feita pelos estudantes estrangeiros; ou para ocupar professores afastados das funções regulares em sala de aula, para eles terem o que fazer (há casos).
6 – A presença das “tsuyakus”, interpretes/tradutoras, fazem parte do pacote de “bondade do governo”. Em geral, são pessoas que trabalhavam em fábricas e que almejaram alcançar um “status” na vida neste Japão; na maioria dos casos são erroneamente tratadas por “sensei”. Ora, incluir ajudantes capazes de falar a língua materna do educando não garantirá à criança um acompanhamento de qualidade, pois, na prática, tais ajudantes, em sua maioria, mal concluíram o ensino fundamental no Japão e estão no espaço educativo, servindo de “espelho” para as crianças. Não é exigido muito dessas pessoas no ato de contratação. Por isso que é comum ver interpretes que cursaram apenas o fundamental aqui no Japão bancando de “sensei” para cima da brasileirada; não é raro as situações de conflitos na escola em que essas pessoas acabam sendo parciais, pendendo para o lado da instituição, sempre com receio de perder a renovação do contrato no ano seguinte, e assim, perder salários que variam de 1.200 a 2.000 ienes/hora em serviço tranquilo (Ou vão dizer que preferem trabalhar em fábrica, em linha de produção com carga horária mais pesada para poder ganhar o mesmo que ganham no reduzido expediente escolar?). Há também casos de crianças que já não precisam mais ir à sala especial, mas são persuadidas por tradutoras a continuar, para que estas não percam a “bocada” com a redução de crianças com necessidade de atendimento.
7 – Não há leis específicas que atentem significativamente para a educação de estrangeiros com vistas a garantir-lhes igualdade de oportunidades, com ensino bilíngue e preservação de suas identidades culturais. Portanto, se você, pai e mãe, não caçar um curso de alfabetização, um reforço escolar na língua portuguesa, não pense que a escola japonesa e a “tsuyaku” irão contribuir para suprir essa necessidade que elas não vão… O lance do sistema local é formar cidadãos que mais tarde serão peças na engrenagem da “máquina Japão”, só isso.
8 – Não há abertura para discussão com os grupos estrangeiros; há, sim, uma proposta já pronta, formulada e colocada em prática sem a consulta dos principais interessados – os estrangeiros. Fóruns, propostas e planos de ações formulados por estrangeiro é o que não falta. O que falta mesmo é a abertura por parte do sistema para receber propostas dos grupos estrangeiros, assim como, falta força política por parte dos especialistas em educação de estrangeiros.
9 – As políticas públicas japonesas referentes à educação de estrangeiros parecem seguir uma tendência que até enxerga o déficit dos estrangeiros, mas, que tal déficit só pode ser superado com a ajuda exclusiva dos próprios japoneses. Lamentável isto.
10 – Tal postura acaba contribuindo para a desmobilização dos grupos estrangeiros em suas lutas por um atendimento menos excludente, não estigmatizante e de qualidade.
Mas há uma saída… aliás, duas maneiras de dar uma melhoradinha…
1 – O pai e a mãe ir até a escola e pedir ao diretor da unidade escolar para excluir a criança desse programa de atendimento ao aluno estrangeiro, dizendo que não quer mais que o filho(a) frequente o nihongo kyoushitsu. E aproveitar para reclamar com o diretor dizendo que tal reforço deveria ser ministrado após o horário escolar, pois assim minimizaria o impacto negativo produzido pela segregação feita em horário de aula regular, quando a criança junta seus pertences para se dirigir à sala especial sob os olhares dos demais alunos, se sentindo inferior a estes.
2 – Caso a escola não ofereça o programa após o horário escolar – bondade a minha, a escola não vai oferecer – os pais brasileiros devem garantir que a criança participe de aulas de reforço das disciplinas escolares ministradas por professoras brasileiras com devida formação. Há esse tipo de atendimento em associações e em escolas brasileiras, onde a criança poderá ser atendida após o horário escolar.
PS. Como a própria introdução descreve com informações fornecidas pelo governo japonês, menos de 40% das crianças conseguem ingressar no segundo grau japonês e pela porcentagem, outras poucas conseguem ingressar em uma universidade. Sabemos que os jovens que se enquadram na pequena porcentagem que entram para o segundo grau nas escolas japonesas, seus pais são mais participativos e os acompanham, filtram as matérias reportagens a respeito do assunto educação, possuem experiências e dicas que podem ajudar o restante a terem o mesmo êxito com seus filhos. Para estes pais, compartilhar suas experiências e comentários, e divulgando as informações para chegarem ao conhecimento de todos é um convite a ajudar a comunidade.
NA PRÓXIMA SEMANA ESTAREMOS APRESENTANDO UMA MATÉRIA SOBRE UM ESTUDO ACERCA DA SITUAÇÃO DOS BRASILEIROS EM ESCOLAS JAPONESAS. AGUARDEM.
By Connexion.tokyo Team
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